“Todo
mundo pra cama”- fala minha mãe no Whatsapp. "É hora de ir dormir!"
Acho engraçado que, apesar de toda tecnologia, mães continuam com o discurso de
mães, onde quer que elas estejam.
Mães têm vocabulário próprio. Foram elas que escreveram o
dicionário do cuidado e da prevenção! E, em geral, verbalizam sua “tutela”
sempre que possível. “Não esqueça o casaco”. “Não chegue muito tarde em casa.”
“Você está comendo direito?”
Não importa a idade, o sexo ou a proximidade com a mãe. Elas
vão expressar, em algum momento, aquele cuidado com aquilo que elas acham que
deve ser bom para você.
E não é por menos. Elas viram você crescer, assim, de um
feijãozinho a um metro e tanto (alguns, de um feijãozinho se transformaram em
um gigante). Elas lhe proporcionaram a introdução à sociedade. Dentro da
possibilidade econômica e cultural de cada mãe, lhe deram o melhor para que
você pudesse ser uma pessoa com formação. Deram-lhe educação. Alimentaram você.
Ficam apreensivas com febres e dores. Elas se emocionaram com desenhos tortos
que você fez quando tinha alguns aninhos e, claro, você não se lembra.
Mães também são campeãs de verbalizar sensações que você nem
sempre gostaria de se lembrar. Quer dizer, pelo menos não na frente dos amigos.
Minha mãe, por exemplo, adora contar que eu tinha uma bochecha grande e rosada
quando criança (esse bochecha nunca foi embora, rsss) e ela mordia com prazer
meu bochechão. E aí, eu virava para meu pai e dizia: “pai, a mãe me mordeu”,
fazendo beicinho.
E elas também adoram verbalizar histórias das artes que você
fez, só pra lhe deixar com mais vergonha ainda. Não tem problema. Esse é o lado
delicioso e ridículo das mães. Elas gostam de lamber as crias, ainda que os
faça de um jeito um tanto peculiar.
Outra característica das mães é dizer o que pensa. Um amigo
meu me disse esses dias que, com o passar dos anos, as mães perdem mesmo a
noção do que é educar e do que é se intrometer, rsssssss. E tem horas que é
preciso dizer: “chega, mãe”. Elas não entendem tudo o que você faz, apesar de
acharem que “te conhecem como ninguém.” É melhor dar um desconto.
Mães não são mães apenas de seus filhos. Elas cuidam dos
colegas mais novos no trabalho. Adotam estagiários como se fossem de sua
família. Mediam conflitos como se estivessem separando a briga dos filhos. Lembro-me
de uma síndica que, certa vez, me vendo sair do prédio embaixo de um toró, me
pegou na porta e disse: “você não vai sair nessa chuva, menina. Espera passar.
Nenhum compromisso é tão urgente assim.” Coisas que mães verbalizam.
E é uma verdade, também, que mães se estressam. Elas podem
falar coisas pesadas, duras, difíceis, praguejar sobre sua vida. Mas, tudo
nessa vida passa.Você pode não ter uma conexão muito forte com sua mãe, mas ela
é sua mãe.
Mães erram, porque são humanas.Em alguns momentos, é preciso
rever o quanto as lembranças ruins devem prevalecer sobre as boas. Quantas
coisas ruins que sua mãe falou são capazes de apagar todas as outras ações que
ela fez por você e que, talvez, nem se lembre, como a emoção de lhe comprar um
sapatinho novo?
É uma verdade que amor de mãe jamais deve ser medido em
contabilidade, expresso em tabelas, como se fosse possível mensurar. Acho que
quando você tem um filho (ou dois ou muito mais), está abrindo caminho para um
amor que vai se resumir em doação. Elas doarão (com prazer ou por obrigação)
sua vida para você, em detalhes ou em grandes atos, ainda que você não perceba.
Mães merecem perdão. Um
dia, tudo de ruim que foi dito não fará mais sentido.
E mais, nenhuma mãe é igual a outra. Não é verdade aquele
ditado que diz que "mãe é tudo igual". Elas até podem dizer coisas
parecidas, mas mães são muito diferentes. Uma lembrança que guardarei da minha
mãe, para todo o sempre, é que quando eu era adolescente, ela lia livros aos
pés de nossas camas (minha e das minhas irmãs) antes de dormirmos. Tudo bem,
que era Camões ou Antônio Vieira ou algo assim, e não histórias de ninar. Que
diferença faz?
Em meu coração, guardarei os aprendizados ditos com amor,
pois sei o esforço que minha mãe fez para me tornar um ser humano melhor. Ainda
tenho um longo caminho a percorrer, mas parte da missão está cumprida.
Gratidão, mãe. Por tudo!
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