Quando comecei a estudar a comunicação assertiva, levei um susto. Tive que rever posturas sobre os relacionamentos, como as amizades e o amor. Foram anos de análises e estudos sobre o posicionamento diante das situações e do desejo do outro.
Nessa busca, encontrei pessoas
maravilhosas, que me mostraram caminhos do que é o amor verdadeiro e sobre o
limite entre eu e o outro, ampliando minha assertividade.
Encontrei também muita “pedrada”,
porque, infelizmente, enquanto não são mudadas posturas diante das situações mais
difíceis da vida, elas continuam a existir.
E, foi por causa dessas situações que
exercitei inúmeras vezes (e continuo exercitando), o olhar sobre o desejo
alheio. Uma das primeiras coisas que aprendi foi: “não assuma a responsabilidade pelo sentimento do outro. Cabe a cada um fazer essa análise”
Existia uma dualidade nessa questão
porque se é preciso ouvir o sentimento do outro para que haja empatia, como não
vou me sentir responsável se alguém ficou triste com um “não” que eu falei?
Eis um fato que a empatia não é sinônimo
de agradar. Empatia é a capacidade de ouvir o sentimento do outro sim mas, posicionando-se diante desta pessoa com uma opinião que você gostaria de dar.
Isso não quer dizer que é preciso concordar com o outro (ou se sentir
responsável pelos sentimentos que o outro terá ao você falar alguma coisa). Ou
ainda, ser empático não significa que você tenha que ceder aos desejos do outro
para que não se sinta culpado(a).
Dizer sim ou dizer não a um pedido
alheio é sempre um desafio, é verdade! Principalmente, para aqueles que amamos
mais. Mas, cabe a cada um avaliar como se sente diante das situações (de um sim
ou de um não).
E é, muitas vezes, nesse ponto que as
relações estremecem. Sentir-se responsável pelo sentimento dos outros e ter
medo de dizer não (ou de discordar), acredito ser, praticamente, um risco de
vida. Você acaba não apenas assumindo uma vida que não é sua, mas fazendo
muitas coisas que não deseja, sem trazer qualquer qualidade a sua vida. A troco
de quê? De um suposto “afeto” ou atenção que alguém vai lhe dar? Eu chamo isso
de barganha do amor!
Observei ainda, na prática, que quando
você se posiciona em não ceder aos desejos dos outros (ou permite-se não se
sentir responsável pelo sentimento dos outros, principalmente numa negativa), existem
aqueles que vão sim usar de retaliação, maledicência e até violência. Em algumas relações
me posicionei com uma opinião que não era o que a pessoa desejava que eu
respondesse. A resposta, em alguns casos, chegou a limites, como a perseguição
daqueles a quem “ousei” (rssss) não ceder aos seus desejos. Quando se tem
reações assim, é um momento de questionar: você quer mesmo manter relações com pessoas
que usam os sentimentos delas como ameaça ou manipulação? Não seria esse
comportamento o egoísmo?
No livro Seja assertivo, de Vera Martins, a autora afirma que quando se
passa a ser assertivo (veja, ser assertivo não é apenas não se sentir responsável
pelos sentimentos dos outros, mas uma série de escolhas e posicionamentos diante
dos relacionamentos. Sugiro ler o livro todo, é fantástico!), é possível
despertar uma série de reações do tipo zanga, hostilidade, mágoa, chantagem
emocional, manipulação, lamentos, vingança, pedidos de desculpas excessivos. Isso
porque as pessoas podem não estar preparadas para o seu novo “posicionamento”
diante da imposição dos sentimentos delas a você.
Acredito que uma relação amorosa (seja
ela de amizade, pais e filhos, relação a dois) envolve uma palavrinha que deve
ser praticada e pensada o tempo todo: respeito. Se você não quer fazer algo e
alguém fica chateado, somente porque você não vai ceder a tal desejo (ou quer
que você se sinta culpado pelo desejo não cumprido – em outras palavras: quer
que você se sinta responsável pelo sentimento alheio), não está respeitando o
seu tempo ou espaço ou o seu “ser”. E mais, não está sendo empático com você!
Isso não quer dizer que não se deva ceder
nas relações. É evidente que em qualquer relação terá que se abrir mão de
alguma coisa e encontrar o bom senso, para que a relação continue existindo.
Seja ir ao bar que você não gosta muito para ver seus amigos até gastar um
pouquinho mais com aquela viagem que seu namorado tanto sonhou. Você sabe o seu
termômetro do “quanto” pode ceder.
Mas, se sentir responsável pelo
sentimento do outro e ter o receio de dizer não, não vai te levar a ter
relacionamentos transparentes (e talvez nem saudáveis). Afinal, quem lhe ama,
lhe aceita como é. Sei que essa frase parece utópica porque, fala a verdade,
quem aceita efetivamente os outros como são?
Particularmente, acredito que, apesar da utopia, as relações construídas com base no respeito (e no amor, claro) podem comunicar o melhor de cada ser humano. Mas, se ainda assim, numa relação você se sentir responsável pelo sentimento alheio, porque não concorda com algo, lembre-se de que você é você e o outro é o outro. Afinal, entender seus próprios sentimentos é um exercício que cada um deva (ou deveria) fazer em benefício próprio e não esperar que os outros façam por si.
Particularmente, acredito que, apesar da utopia, as relações construídas com base no respeito (e no amor, claro) podem comunicar o melhor de cada ser humano. Mas, se ainda assim, numa relação você se sentir responsável pelo sentimento alheio, porque não concorda com algo, lembre-se de que você é você e o outro é o outro. Afinal, entender seus próprios sentimentos é um exercício que cada um deva (ou deveria) fazer em benefício próprio e não esperar que os outros façam por si.
p.s: agora, se você agrediu alguém ou feriu de alguma forma, fisicamente
ou verbalmente, é evidente que você é sim responsável pelo sentimento do outro.