Como você descreveria o amor? Momentos de carinho entre duas
pessoas? Aquela coisa que só o coração sabe explicar? Uma sensação de paz? Ou
seria a falta dela?
Há
milênios, muitos tentam descrever o amor como se as palavras, as artes ou
qualquer outra forma de expressão pudessem falar por um sentimento tão nobre.
Sem sombra de dúvidas, são os poetas que traduzem melhor o amor. Quer
dizer, há muitos escultores e músicos que também descrevem bem o sentimento.
Mas, os poetas, a meu ver (e como esse blog é meu, quero considerar os poetas
mais entendidos do assunto, rssss), são aqueles que melhor traduzem as nuances do
amor. Quintana, por exemplo, afirma: “Amar é trocar a alma de casa”.
Mas,
também são os poetas que falam sobre as dores causadas pelo amor: “Amar o
perdido, deixa confundido esse coração”, diz Drummond em um trechinho de um
poema seu.
Sim,
porque amar está muito além de simplesmente entrar em uma bolha de prazeres e
delícias. Amar envolve uma série de questões e pode ser muito mais complexo do
que se pensa.
Honestamente,
não existem verdades sobre o amor. Cada um ama ao seu jeito. Mas, questiono se
o amor, em alguns momentos, mais se parece com um apelo do que se quer do outro
do que realmente o que se sente pelo outro.
Para
criar um debate amoroso (por que, não?) a respeito do amor, convidei uma
psicóloga expert para falar sobre o “amar”.
Por que expert? Maria Marta Ferreira
é psicóloga na Clínica Psicobela Saúde Emocional Beleza Integral, de Curitiba.
É autora do livro “Ser feliz não é pecado” e sabe, como ninguém, o bem que o
amor faz (a si próprio e ao outro), sendo capaz, inclusive, de transformar
emoções, gerar motivações e criar novas realidades.
1) Maria, vamos
destrinchar o amor em suas várias faces. Mas, vou começar por um clichê. Muitas
pessoas querem ter um namorado(a). Aí quando “arranjam” alguém, a situação
acaba virando quase que um pesadelo. Isso porque, claro, a pessoa só quis
arranjar uma “muleta”. Eu atribuo a isso (me corrija se eu estiver errada) o
fato de que o amor tem de vir de si. Ou seja, é preciso comunicar o amor
próprio antes de qualquer coisa. Como você avalia o amor entre duas pessoas? E
você acredita que os relacionamentos estão (ou estariam) mais difíceis hoje em
dia?
Acredito
que há tantas formas de amor, quanto existem diferentes pessoas pra amar.
Quando o que se tem em mente é o amor romântico, o querer estar perto, o toque
que acalma, que também ascende. A vontade de fazer planos juntos, gastar tempo
juntos, construir família, multiplicar, não apenas material genético, mas
histórias, experiências. Os protagonistas costumam ser pares, duas pessoas que se
encontram, que se escolhem. A partir daí o amor como uma espécie de raiz “pega
ou não”. Depende de como amamos, de como agimos.
Cada época
o amor tem um tom, porque acompanha a humanidade e suas evoluções, mas há
conteúdos no amor que são essenciais, como a necessidade de ser reconhecido,
valorizado, de ser importante, especial, valioso para alguém.
Temos
necessidade de amar, porque no final das contas tudo converte-se em
relacionamento. Precisamos do outro para nos descobrir, nos experimentar, para
crescer, aprender, evoluir.
Há tempos
que o coração quer se apaixonar, há tempos que precisa de ternura. São faces,
momentos do amor. Amor é emoção, é energia, não se perde, se transforma.
Primordialmente acredito que AMAR é FAZER. Amar é verbo, é mais que sentimento,
é atitude.
Não basta
dizer que ama, é preciso demonstrar que ama, e nesse sentido amor é algo pra
ser compartilhado, não dá pra amar sendo demasiadamente egoísta, porque amar
exige troca: doar e receber.
Infelizmente
alguns falam do amor hoje como “mercado de afetos”. Provavelmente porque há
mesmo consumo excessivo, volatilidade, relações vazias, pessoas que procuram
não pessoas, mas ideias que fazem das pessoas.
Alguns
estão numa busca tão frenética que nem reconhecem quando há possibilidade ou
chances para o amor naquele encontro. Estão a procura do “maior amor, do melhor
amor”.
Mas, vale
lembrar que amor não é produto, é aquela misteriosa energia que brota e muda
tudo. Mas, é um BEM intangível, não se pega, não se compra, não se vende, só se
SENTE. Mas "todo mundo vê", porque faz a gente brilhar mais e tudo o
mais faz brilhar...
2) Explique
um pouquinho, por favor, a respeito do amor próprio.
Amor próprio é em essência ter estima, afeição, carinho, consideração,
respeito consigo mesmo.
Ter um bom relacionamento consigo mesmo é a base para um relacionamento
saudável com outra pessoa. Gostar da própria companhia, fazer coisas
edificantes pra si mesmo, desenvolver autonomia, ter um bom conceito sobre si
nos auxilia a nos sentirmos interessantes e valiosos para o outro. E valorizar
e considerar o outro.
Alguém que chega em nossa vida, deve ser para nos fazer MAIS felizes, e
não para nos fazer feliz. Essa capacidade e responsabilidade é primordialmente
nossa.
Assim felicidade e amor, devem ser somados, e não divididos.
3) Outra
questão que gostaria de debater sobre o amor é que as pessoas esperam que o
amor seja aquela coisa cheirosa, sempre sorridente, como num filme romântico. É
claro que o romantismo é necessário (quem não gosta de um vinho e uma boa
música?), mas haverá rotina, momentos de tensão, pontos discordantes entre você
e o outro. Como desmitificar o amor nesse caso?
A palavra
é essa mesmo retirar o mito, descascar, tirar parte da fantasia. É natural que haja
uma vontade de estarmos SEMPRE bem, o problema é que exatamente esse sempre NÃO
é possível.
Podemos
estar a maior parte do tempo bem. Para sermos inteiros e vivermos relações
integrais, maduras, precisamos aceitar e suportar as turbulências e instabilidades.
Não que seja fácil ou agradável, mas é necessário e imperativo da vida.
Não amamos
do mesmo jeito todos os dias, o amor é cíclico como os ponteiros do relógio.
Horas estamos curtindo o ápice, mais que dez, doze! Horas, estamos fracionando
entre o três e o nove, horas temos que fazer contas porque estamos em baixa, de
cabeça pra baixo, meia dúzia, meia boca...Mas isso muda. O ponteiro gira.
Por isso
um relacionamento precisa de confiança, paciência pra vivenciar todos os seus
momentos. Novamente é hora de somar, os bons, os médios e os grandes momentos.
Se o saldo for positivo, fique por aí que está tudo certo. Do contrário, vale
reavaliar.
4) Vamos
falar do amor entre amigos. Certa vez li um artigo que falava que as pessoas
atribuem “funções” a seus amigos. Por exemplo, essa é minha amiga de ir ao
cinema, aquele outro é meu amigo de tomar chopp. Reflito a respeito do “amor de
função”. Como você avalia essa questão?
O que está
chamado aqui de função eu costumo chamar de “amigos especialistas”. Como os
dedos das mãos, em suas diferenças, juntos podem fazer muitas coisas, e
separados também.
A vantagem
disso é a diversidade, a exclusividade, partes de um todo. Às vezes precisamos
rir muito, e nossos amigos “palhaços” nos aliviam a alma, noutras precisamos de
uma boa bronca então nosso amigo ranzinza e exigente entra em ação e por aí
vai. Não significa que não amaremos nossos amigos que não nos fazem rir. Mas
talvez isso nos ensine, que nenhum de nós é completo, por isso precisamos de
vários.
Lidar com as
limitações e impotências é uma forma majestosa de amor, porque amar também é
limite!
5) Vamos falar de
amor de pais e filhos. Vou contar uma historinha para ilustrar minha pergunta.
Certa vez, uma amiga chegou chorando em casa, porque ela não queria mais ser
aeromoça (mudei a profissão para preservar a pessoa) e queria estudar
literatura. Mas, não tinha coragem de contar para a mãe. Fiquei pensando (mas,
não disse): “acho que sua mãe não vai te amar menos porque você deixará de ser
aeromoça.” Pois, não é que ao contar seu desejo para a mãe, ela (a mãe) cortou
relação com a filha durante anos? Explique um pouco a respeito do amor entre
pais e filhos?
É natural
que teçamos expectativas, que esperemos algo de quem amamos. Comum também são
as projeções dos pais sobre os filhos. Muitas vezes lançam sobre sua prole
desejos não realizados por eles mesmos.
Muitos
adoram “exibir” os feitos de seus rebentos, contar o quanto são bem sucedidos e
felizes. E a maioria está mesmo desejosos de que sejam felizes.
O problema
é que muitas vezes os pais não respeitam a individualidade, o direito de
escolha dos filhos. Pensam que esses precisam pensar como eles pensam,
agir como os pais agem. E desconectam de que esses seres são diferentes.
Há pais
que condicionam o amor a obediência cega, desrespeitosa. Nesses momentos os
filhos precisam ter clareza e coragem pra alçar seus vôos, testar esse amor.
Se o amor
de um pai, irmão, seja quem for não resistir ao direito do outro ser quem é em
fazer suas próprias escolhas, então esse “amor” é posse, domínio, não amor. Os
pais têm o direito de ficarem frustrados, mas tem o dever de respeitar, porque
amor de verdade, tem aceitação, tem respeito!
6) Também
gostaria de enfocar a manipulação. Muita gente diz que ama. Mas, por ciúmes e
até medo de não ser correspondido, acaba manipulando seus parceiros (ou
amigos(as), namorados(as) e até filhos(as)) para conseguir atenção. Como
perceber um manipulador?
Um
manipulador é um egoísta de plantão. Autocentrado, acredita que o mundo só está
certo da perspectiva dele. Pouco empático, não se coloca no lugar do outro. Só
ele sofre, só ele se esforça, só ele, só ele...
É um
inseguro, muitas vezes sem vida própria, costuma ser dependente e controlador.
Imaturo também.
Quem se
aventura a amar tais seres deve estar disposto a uma doação sem limites. Deve
saber que pode doar o sangue, e se preparar para doar mais, porque essas
criaturas ávidas, ambicionarão sua alma também.
Os frutos
costumam ser sofrimento, cansaço, culpa, e impotência.
Manipuladores
não amam, controlam.
7) Por que
parece tão difícil, hoje em dia, pessoas que aceitem os outros como são? Vemos
desde intolerância religiosa até sexual. Isso não seria a falta de “amar o
próximo”? E o que seria “amar o próximo”?
Temos
visto muitas bandeiras da intolerância hasteadas. Isso contraria o amor, porque
uma de suas faces é a tolerância, a aceitação, o respeito às diferenças.
Há quem
chame paixão de amor e fanatismo de fé. Habitualmente são pessoas inflexíveis,
rígidas, ou idealizadas, parciais que não têm visão para compreender que as
moedas são dupla face e que a vida é feita de ambiguidade, dualidade.
Não há só
certos, ou só errados. Esse maniqueísmo, esse separatismo denota imaturidade,
pouca generosidade e arrogância.
Um dos
grandes mestres do amor ensinou que é preciso amar os inimigos. Por certo,
inteligente como era não estava propondo demonstração de afeição, ou gestos
carinhosos para seus inimigos, estava falando que temos o direito de discordar,
de não gostar, de não aderir, MAS, temos a obrigação de respeitar, ou seja,
permitir que o outro seja o que é.
Isso não
significa permissividade, submissão, mas a compreensão do direito a liberdade.
E vale lembrar que liberdade gera consequência e que implica responsabilidade.
Por isso
amar o próximo significa tratá-lo como gostaria de ser tratado, respeitá-lo
como gostaria de ser respeitado. Doar e receber exatamente o que está disposto
a doar e a receber também.
8) Como o
amor pode transformar realidades?
Já falamos
que amar é um verbo, uma ação. Amar é fazer.
Gosto
muito de um texto do Gandhi que diz que “O
que destrói a humanidade é a política, sem princípios; o prazer, sem
compromisso; a riqueza, sem trabalho; a sabedoria, sem caráter; os negócios,
sem moral; a ciência, sem humanidade; a oração, sem caridade.”
Assim, vejo que princípios, compromisso, trabalho, sabedoria, caráter,
moral, caridade são frutos do amor. E como disse Madre Teresa: “a falta de amor é a
maior de todas as pobrezas”.
Livrai-nos
dessa pobreza!!!
Quando
perguntei a Maria se ela queria acrescentar mais alguma questão que eu não
tinha abordado a respeito do amor, Maria disse: “Querida, passaríamos a vida escrevendo sobre o
amor, rsrsr.”
E não é?
Gostaria de agradecer a
Maria por dividir seus conhecimentos, sua atenção e tempo para um assunto tão
nobre como o amor. Tenho certeza de que foi enriquecedor, não só para mim como para o
leitor também.
Maria Marta Ferreira
(CRP 08/07401) psicóloga com mais de 15 anos de experiência em clínica.
Autora de Ser Feliz Não
é Pecado – Conexões entre autoestima e fé – Editora Juruá e outros títulos.
Comentarista semanal
sobre relacionamentos no Programa Light News (95,1 Transamérica Light) e Fale
com Maria – TV Evangelizar.
Diretora da clínica
Psicobela, Revista Digital e Site de mesmo nome www.psicobela.com.br
(Comportamento,
emagrecimento, autoestima, valorização da beleza integral e saúde emocional).
Maria já esteve nesse blog outra vez, quando resolvi conversar com o Wilson (rsssss). Você pode conferir a participação de Maria clicando no post Eu converso com o Wilson, e você?
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3 comentários:
Alloyse: muito oportuna e atual sua entrevista com a psicóloga Maria Marta Ferreira. Nestes tempos 'bicudos', e parafraseando Caetano, "a gente nunca sabe onde colocar" o amor.
Que lindo Texto, adorei como vocês abordaram um assunto tão delicado e difícil de descrever.
Obrigada, rapazes. Fiquei muito grata com a participação da Maria. Ela é muito humana e sensível. Vale lembrar que o que nos move, de verdade e lá no fundo, é o amor. Então, como não falar de um tema tão relevante?
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