Acredito que o bom humor é um ingrediente único quando se
está em uma situação “delicada”. Ajuda a sair de muitas saias justas porque
traz leveza.
No entanto, não foi assim que meu interlocutor entendeu. Eu
não havia feito uma piada, nada disso. Apenas sorri e tentei descontrair, com
algumas palavras, devido a um “problema” causado pelo próprio interlocutor. Disse
coisas do tipo: “ah, vida é assim”. Mas, o interlocutor tinha mais pressa do
que o desejo de descontrair.
Lembro-me que depois do encontro, senti-me estranha. Entrei em um café,
pedi um chá gelado e fiquei sentada, atônita. Como assim, não se pode sorrir?
Demorei a entender o que aquelas palavras queriam dizer. O interlocutor não
queria que eu sorrisse porque achava inapropriado naquele ambiente? Não pode
ser! Eu não havia debochado. Além do mais, só estava eu e o interlocutor no
ambiente. As paredes não podem saber que sorrimos? Será que não havia gostado
de meus dentes? Não, não pode ser isso. Fiquei ali sentada, com um ponto de
interrogação no olhar e um desejo de mais calor humano. Aquelas palavras não me
saíam da cabeça!
Quando foi que o ser humano deixou de ser humano? Em pleno
século XXI, não se pode mais expressar o desejo comum de qualquer pessoa que é o
de ser feliz? Ou demonstrar alegria? Entendo que, até certo tempo atrás, em
muitos ambientes de trabalho, ser sisudo era um ideal para demonstrar respeito.
Mas, num mundo globalizado em que as pessoas estão mais abertas às trocas de
todas as formas; em que se tem acesso a todo e qualquer tipo de informação; em
que a felicidade é apreciada em qualquer lugar que se vá (até na propaganda da
Coca-Cola); em que as pessoas pensam mais sobre o meio ambiente e estão, cada
vez mais, conscientes de serem agentes de um mundo melhor; como podem os
profissionais ainda se vestirem de um distanciamento de ser um humano?
Quando vejo situações como essa, às vezes, tenho a sensação
de que a “vestimenta” de ser “alguém importante” realmente se sobressai ao
humano que está dentro de cada um: uma pessoa que teve infância; deve ter tido
amigos; romances e até viagens legais em seu repertório. Mas, que por um motivo
(a meu ver) menos nobre, deixou-se reforçar apenas por seus interesses
imediatos: “eu sou o tal, não sorria porque você pode atrapalhar meus
pensamentos”.
Mas, o que é a vida senão um movimento contínuo cheio de
altos e baixos e ciclos? Ninguém dura eternamente em uma posição de “o tal”. Além
disso, a longo prazo, o distanciamento da vida humana (amigos, família, divertimento,
alegrias grandes ou pequenas) faz calar o melhor de cada ser. E, ao final da
vida, eu me perguntaria (e, com certeza, me perguntarei): o que eu colhi para
mim? O que deixo como legado como ser humano? Uma carreira? Mas, uma carreira
não deveria ter sido apenas uma parte da minha vida?
Eu sei que sou idealista e gostaria de ver um mundo mais
humano. No entanto, não estou sozinha. Assim como eu, sei que, dentro de muitas
pessoas há um desejo maior de explorar o seu próprio coração, seja por meio do
amor, da alegria, da felicidade ou, simplesmente, expressando a vontade de
tomar um sorvete. Sem o medo de parecer um humano!
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