Uma senhora está parada na porta de entrada de um
supermercado pequeno. Desses de bairro. Então, pega um pacote (aparentemente de
pão) e o cheira. Permanece parada com o saco em mãos, durante alguns minutos,
como se a cena pudesse ter sido pausada.
Depois, abaixa o saco e comenta com uma vendedora: “isso aqui
tem cheiro da minha juventude.” Passou no caixa, levou o pacote e saiu. A moça
do caixa comentou: “eu, heim, é só café que tem dentro.”
Não pra aquela senhora. O que ela deveria ter imaginado? Sua
vida na lavoura? O torrador de café da família? Ou, o cheiro do café coado para
seu grande amor? Só ela saberia.
Um pouco mais pra frente, em um café, uma moça está com um
livro em mãos. Sua feição é de tristeza, mas não parece triste, exatamente. E, num
suspiro, deita o livro como quem vai tomar um fôlego, deixando aparecer o
título da obra: “Orgulho e Preconceito”. Quando li a primeira vez o livro não
tive dúvidas de que a personagem central, Elizabeth Bennet, é quem era a
orgulhosa. Mas, isso não me deixava triste. Apenas, pensava: “que teimosa”. A
frequentadora do café, observando que eu olhava pro livro dela, comentou: “esse
Mr. Darcy é muito orgulhoso”. Fico furiosa, comentou. Eu, apenas sorri (como
assim, furiosa?).
Realmente, um ponto de vista é apenas um ponto de vista. E, é
possível estender esse comentário a quase tudo: às visões sobre a política (tão
debatidas nas redes sociais); aos chatos, que tentam te convencer sobre sua
religião; aos missionários do futebol, que querem lhe impor seu fanatismo como
se fosse obrigado ter a mesma atitude. Ah, isso vale também pras pessoas que
querem causar polêmica sobre qualquer coisa que leem (com o nariz, claro),
principalmente nas redes sociais.
Diante de tantas opiniões distintas, acredito que o poder de
expressão comunica muito mais que a democracia. Se se prestar atenção um pouco
mais nos comentários das pessoas, seja em relação àquela senhora ou à moça do
café ou ainda em relação aos que opinam sobre tudo e qualquer coisa nas redes
sociais, existe uma pista muito evidente por trás de tudo isso: o que existe no
coração de cada um!
Tudo o que sai pela sua boca (e pela minha também) é um
vestígio muito evidente de como cada um se sente diante de fatos. Bote reparo:
muitas vezes alguém fala alguma coisa ou se expressa de maneira muito clara e
objetiva. Mas, outra pessoa entende como uma afronta o que foi dito.

No entanto, existem outras pessoas que, por mais que um
momento esteja tenso, esquisito ou esteja uma situação limite (como a pobreza,
por exemplo), conseguem verbalizar coisas lindas, felizes, palavras leves e
preencher o espaço com muito amor. E mais: ver as coisas a partir de uma
perspectiva muito otimista.
Lembre-se: tudo o que é verbalizado é apenas um reflexo do
coração. E, então, o que o seu coração diz?
1 comentários:
Lindo texto, adorei.
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