Então, pensei: “com o que vou me
entreter?” Depois de checar todos os e-mails no celular, tomar um chá gelado e
ficar olhando para o painel como quem aguarda um milagre, simplesmente desisti.
E, aceitei que teria, mesmo, que esperar.
Então, saí da sala de embarque e fui até
uma livraria (praticamente a mesma em todos os aeroportos desse país). Dei uma
olhada nas revistas (com calma, afinal, teria que ocupar esse tempo, mais ou
tempo do voo, ou seja, teria que me ocupar, mesmo). E foi que, pensei: “vou
comprar um livro!”
Comecei a passar os olhos entre os
títulos e não reconheci nenhum entre aqueles que um dia sonhei em comprar e
que, numa ocasião como essa, seria perfeita. Na verdade, quase levei um susto
ao observar títulos como esses: “como ser seu próprio coach”, “como conquistar
homens acima de 40 anos”, “como fazer amigos de verdade”, “como buscar prazer
no dia a dia”.
Intrigada, comentei com a atendente: “não
sabia que a franquia estava vendendo somente autoajuda.” Ela, então, se virou
pra mim e disse: “não são de autoajuda, são de literatura”.

Literatura, para mim, é contar uma
história. Não importa se é um drama, uma comédia ou um suspense. Na minha visão
(talvez limitada) não tinha entendido que as pessoas prefeririam a receitas
prontas da vida do que as histórias que poderiam “entreter” o cérebro ou o
coração (depende do estado de espírito).
A moça, ainda observando meu
estranhamento disse: “é que as pessoas gostam de ler esses livros que trazem jeitos
de viver”. Eu pensei: “gente, como assim, jeitos de viver”? Antes que eu seja
apedrejada na esquina, preciso justificar o argumento: não sou contra livros de
autoajuda. Já li alguns, como, por exemplo, O Segredo. Mas, acabou aí porque
preferi ler filosofia que, a meu ver, considero mais reflexivo que autoajuda. Se
o livro de autoajuda traz alguma reflexão, acho que está valendo. Mas, claro,
esse é o meu argumento e não espero que ninguém concorde comigo.
O que me assustou ver que em um
aeroporto em que milhares de pessoas circulam, durante todos os dias, é que as
pessoas querem fórmulas prontas pra sua vida e isso estava estampado na
prateleira daquela livraria. Aliás, acredito que esses livros não podem ser
classificados como autoajuda porque não trazem nenhuma reflexão. Apenas, apontam
modos de como você deveria viver.
Curiosamente, nenhum livro falava a
respeito de “como ser você mesmo”. Vou explicar melhor: ser o reflexo de um
molde (e não a reflexão sobre ele) é como abrir a revista de moda e querer ser
a modelo que está no editorial central. Você não vai ter aquele corpo, aquele
cabelo, aquelas roupas caras (talvez algumas delas). Mas, com certeza, terá uma
infinidade de qualidades (físicas, inclusive) que a moça do editorial não tem. E,
a meu ver, quando se diz que você deve fazer isso ou aquilo pra ser feliz é o
mesmo que dizer: viva a vida de alguém que não a sua! Um perigo só!
Claro, eu sei que o ritmo de vida é
muito corrido (o meu também é), mas ter em mãos soluções que alguém formulou
pra você parece simplista demais. Não que eu queira complicar a vida. Nada disso.
Aliás, sou a primeira a levantar bandeiras do tipo: se não tem remédio,
remediado está. Mas, até chegar a essa conclusão, acho que vale um pouquinho do
exercício da observação! O que tal fato representa pra mim e como me
posicionarei diante dele?
Acredito, honestamente, que sem esse
exercício, muito provavelmente se viverá pautado nos discursos alheios porque é
mais fácil mesmo quando alguém chega a uma conclusão para si. Mas, e como fica
o seu coração diante de uma decisão que alguém tomou por você? Até porque
reflexões podem levar à dor e podem levar a outras coisas que vão exigir uma
mudança de comportamento. Sim, é mais fácil mesmo quando alguém diz o que você
deve fazer porque encurta esse caminho.
Enfim, depois da minha reflexão diante
daquelas prateleiras repletas de receitas prontas para a vida, peguei um sudoku,
um lápis, me sentei num cantinho e, então percebi, que não gostava mesmo das
fórmulas prontas! Nem nos joguinhos!
Pra quem não
conhece Jack Sparrow:
1 comentários:
Adorei o texto!
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