Li,
certa vez, que assim como em toda revolução, a Francesa não foi feita por
pessoas que oravam na frente dos portões de Paris. Houve muito tumulto e
confusão. Mortes e sangue. É um fato que nenhuma revolução se faz,
exclusivamente, de maneira pacífica.
Você até pode achar um exagero no que vou dizer, mas o século
XXI atravessa a revolução nas comunicações. Na verdade, o século XX já havia apresentado
um turbilhão de novidades nessa área, se comparado aos anteriores. No entanto,
o novo milênio trouxe boas novas e um jeito cada vez mais abrangente de se
comunicar.
Em pouco mais de dez anos, surgiram o smartphone, a banda
larga, os aplicativos, as redes sociais. Existe a impressão de que eles sempre
estiveram ali. Mas, na verdade, as pessoas se acostumaram, facilmente, ao boom das possibilidades para se
comunicar. E, com as novidades também surgiram novos comportamentos. Aliás,
vários, e até poderia ficar algumas horas discutindo sobre eles. Mas, nesse
texto, vou considerar dois que, particularmente, acredito que mudaram a maneira
de se comunicar.
O primeiro deles é olhar para fora. Não faz muito tempo, uma
meia dúzia de anos, em que dizer onde se está e com quem jantou eram
informações divididas, exclusivamente, com seus amigos e familiares. Agora, é
possível saber a rotina de alguém apenas olhando seu perfil no Facebook. Não à
toa, a geração Y ficou conhecida como a geração dos selfies ou autorretratos (apesar de ser uma moda que pegou em
qualquer geração). Expor sua rotina, projetos, planos, programas, ansiedades,
medos, frustrações, enfim, nunca foi tão fácil. Basta responder à pergunta do
Facebook: “no que você está pensando”?
Acredito que isso gerou um modo de ser voltado para a
exposição excessiva. Antigamente (e falo isso sem nenhuma nostalgia), as
pessoas tinham uma rotina que era compartilhada na vida real, mesmo. Não tinha
por quê tirar foto com os colegas de trabalho para dizer: “estamos
trabalhando”. Isso era sabido por si só. Ninguém duvidava – e tenho muitas
dúvidas de que exista esse questionamento nos dias de hoje – de que se você não
tirasse uma foto não teria como comprovar que estava trabalhando. Hoje, se você
não tirar uma foto no bar é porque não tem amigos. Enfim, a exposição trouxe um
mundo de subentendidos muito perigosos, cheio de julgamentos precipitados e de
comparações desnecessárias.
Poder dizer o que se pensa, sem sombra de dúvidas, é uma
revolução. Nunca antes - em qualquer momento na história da humanidade, para
ser mais honesta – as pessoas foram livres para se expressarem. O lado bom
disso é que é possível dizer mais facilmente aos amigos, que você tem saudades,
dizer “obrigada”, demonstrar amor, afeto. Mas, também na mesma proporção,
demostrar ódio, raiva, tristeza. O que é exposto nas redes sociais não vem
exatamente ao caso.
O que quero dizer é o seguinte: as pessoas (e me incluo
nisso) estão passando muito tempo olhando para fora. Vivendo a revolução do
aproximar-se das pessoas sem muita verdade, do viver sem presenciar. E, claro,
isso modifica a maneira como as pessoas se relacionam e como a comunicação
acontece, porque uma coisa está diretamente atrelada à outra. Quando se tem uma
série de eventos rápidos e dinâmicos ao longo de um dia, funcionando como imputs a cada minuto, tende-se a tornar os
relacionamentos superficiais. Afinal, para dar conta de tudo é preciso ser
rápido, sem pensar muito. E quando se faz isso, é como responder no piloto automático.
E, como toda resposta automatizada, não tem “vibração”, não tem envolvimento.
Portanto, a comunicação da atualidade demonstra uma série de reações nem sempre
reflexivas, muitas vezes impulsivas, sem validar o que foi dito.
Perigoso isso, não?
Agora, o segundo ponto que é preciso considerar na
comunicação atual é complementar a tudo isso: quanto tempo você tem dedicado a
olhar para dentro? Em vez de reagir aos imputs
que surgem de fora, já se questionou como tem se comunicado com as pessoas?
Você já se observou falando com alguém? O que te leva a abordar as pessoas? Não
é muito fácil abordar as pessoas hoje em dia? Mas, você sabe o que pretende com
elas? Já pensou sobre isso?
A maioria age como se estivesse numa maratona (aliás, muitas delas
gostam de dizer que estão ocupadas) e o resultado da comunicação (ou a maneira
como expõe suas ideias) seria uma consequência natural dessa corrida. E ainda,
quando colhem resultados negativos por algo que disseram, afirmam: “estou
estressado”, “falei sem pensar”, “não estava num bom dia”. Se você tem se
sentido assim nos últimos tempos, bem-vindo ao clube! Que tal então parar de
olhar para fora?
Quando as pessoas me perguntam: como eu faço para me
comunicar melhor, digo: olhe para dentro! Não siga o fluxo. Não reaja. Não caia
na tentação de se expressar o tempo todo. Observe um pouco quem é você e o
mundo ao seu redor. É possível que identifique que, muitas das coisas que estão
sendo ditas, não têm validade para você.
Não sei se isso ajuda a conferir mais qualidade aos relacionamentos
(pelo menos, funcionou para mim), mas, com certeza, terá uma comunicação mais
consciente e responsiva. Sem responder o tempo todo!
Se isso é uma revolução? Não tenho certeza. Mas, é preciso aprender
a lidar com tudo isso!
p.s: algumas curiosidades
sobre a maneira como nos comunicamos nos dias de hoje.
Número de vezes em que uma
pessoa acessa o Facebook:
Um pouco sobre a evolução
das comunicações nos últimos anos:
A comunicação ao longo da
história:
4 comentários:
Total razão, Alloyse. Câmbio e 'off'.
Texto lindo e muito bem intencionado, o que, o torna ainda mais importante e oportuno. Parabéns, Alloyse Boberg, você é admirável em avaliação e conceitos. Obrigado por ter me permitido refletir sobre o assunto. Realmente extraordinário!
Reinaldo, querido, desconecte-se, mas volte sempre! Rssssss.
Dilson, muito obrigada pelas doces palavras e pela análise!
Fique à vontade para palpitar sempre!
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