Abri a porta do elevador de um prédio comercial, numa daquelas
quartas-feiras corridíssimas. Apertei o botão do vigésimo sétimo andar e fiquei
parada, quietinha, observando as pessoas que entraram comigo para ver se o
tempo passava mais rápido. Afinal, já tinha checado o e-mail, duas vezes, no
celular, enquanto aguardava o elevador.
Fiquei no fundinho (sempre fico em um cantinho), e então vi
uma moça usando uma saia lápis preta, muito parecida com uma que tenho no
guarda-roupa e que não uso há um certo tempo. E percebi como a saia tinha
ficado bonita na moça e a combinação incrível. Fiquei com vontade de dizer: que
bom gosto o seu!
Mas, aí, a tal moça abriu a boca e virou-se para o, talvez
marido, e disse: “nossa, hoje eu estou horrível! Que saco! Nada fica bom em
mim.” Fiquei tão surpresa (chocada mesmo) que eu não pude conter minha boca
grande: “escuta, moça. Não percebe que é bonita? E você, meu amigo, que está do
lado dela, não vai dizer nada”?
Aí, claro, “causei” no elevador. As pessoas ficaram me
olhando como se fosse uma bêbada. Ninguém falou nada. E, por sorte, ninguém me
bateu!
E aí, me esqueci desse episódio logo que entrei na sala onde
tinha o compromisso marcado. Passaram-se semanas até que eu vi uma mulher
usando uma outra saia, cumprida dessa vez, e aí achei o tecido incrível. Um
algodão meio cru, sobreposto, em formato xadrez. E, então, a moça, vendo que eu
observava a saia dela, perguntou: “linda a saia, não?” Fiquei tão aliviada com
o comentário dela que disse: “graças a Deus, uma pessoa com alto astral, que não
vai achar um elogio uma ofensa!” Ela concordou!
É um fato que se vive, atualmente, em um mundo um pouco
perigoso e que, claro, não se pode dar muita trela para as pessoas nas ruas.
Mas, fico espantada de ver a quantidade de pessoas que perderam a capacidade de,
simplesmente, receber um elogio. Isso que eu não saio elogiando a torto e
direito, não. Só quando realmente acho algo muito legal. Mas, se algo é muito
legal, por que não dizer?
A admiração de algo não deve ser entendida como puxassaquismo
ou uma oportunidade para também ganhar um elogio. É que, realmente, não existe
nada mais alegre e espontâneo do que verbalizar algo legal!
Mas, é um fato também que tanto o elogio, assim como aceitá-lo,
pode ser muito mal interpretado. Existe a turminha do “faz de conta”, que parece
ser muito humilde e que, toda vez que é elogiada, diz assim: “imagina, são seus
olhos! Gostou da minha bolsa? Nossa, nem tinha reparado nela.” Aliás, não
existe nada mais chato do que aquelas pessoas que se depreciam para ganhar um
elogio: “nossa, tô gorda”, “ah, esse meu trabalho nem ficou tão bom assim”.
Escutei, certa vez, de uma profissional muito competente que
a “carência” é uma das piores características do ser humano, porque, em geral,
a pessoa precisa se colocar em uma situação ruim (ou até vexatória) para ganhar
um pouco da “piedade” alheia. É como ganhar o “amor” na “dor”. É aquele
pensamento (confuso) de que “se eu for boazinha e bem coitadinha as pessoas vão
achar que eu sou humilde e aí vão gostar de mim e até dar atenção”. E por que é
que não se pode ganhar o “amor” no “amor”? Vou traduzir de outra forma: por que
é que não se pode ganhar o amor com as qualidades que se tem em vez de seus
problemas?
Particularmente, acredito que as pessoas que realmente são
humildes têm a capacidade de aceitar suas qualidades e defeitos e de saber
dosar ambas as coisas, quando questionada sobre elas. É o “aceitar” como se é.
E, na minha cartilha, quem se aceita como é não fica preocupada se a amiga se
maquiou mais do que você; não se preocupa se sua prima está muito mais elegante
do que você num simples churrasco; não se preocupa se sua chefe usa um salto
dez para trabalhar ou uma saia lápis. Simplesmente, enxerga a beleza,
independentemente se esse é seu estilo ou não. E, com certeza, quem está feliz
com seu estilo ou com sua vida também recebe elogios (francos).
Esses dias, um amigo comentou comigo: “a beleza está nos
olhos de quem vê”. Acredito que esse é um ponto de vista bastante pertinente e
merece interpretações! Quando se percebe beleza nas pessoas (a ponto de se
admirar nos outros o que talvez não seja uma característica sua: por exemplo,
eu não uso salto dez, mas acho divino em algumas amigas) é porque talvez sua
percepção das pessoas seja mais calorosa e alegre.
É claro que é um perigo afirmar que quem não elogia os outros
é porque não está feliz consigo. Não acho isso uma verdade. Mas, também não se
pode dizer que é uma inverdade. Acredito que a resistência tanto em fazer
elogios do que recebê-los pode ser (e aí, não afirmo que seja) o medo da
“verdade”. Vou dar mais um exemplo:
quantas vezes você deixou de elogiar alguém, porque achou que a pessoa não
merecia? Particularmente, acho isso uma bobagem. Até nossos inimigos (se é que
se tem algum) têm direito a ser bonitos, inteligentes ou espertos!
Um elogio, quando feito de verdade e com o coração, não faz
mal a ninguém. Aliás, só faz bem a quem o verbaliza, afinal, que legal é ter o
sorriso de alguém.
O meu é garantido!
2 comentários:
Alloyse, mais uma vez de muitas: parabéns pelo texto!
Gratidão, meu querido! Gratidão!
Postar um comentário