Já
reparou que a gente está sempre pedindo algo?
É evidente que, ao longo de um dia, todo mundo irá pedir uma
série de coisas para você e você para elas. É normal. Podem ser pedidos
pequenos, como: “me passa aquela folha”? Ou pedidos grandes como: “vamos viajar
para Amsterdã, amanhã”?
Já observou quantos pedidos se realiza ao longo de 24 horas?
Pede-se o pão na padaria, pede-se café, também! Pede-se que alguém cuide do seu
carro no estacionamento. Pede-se para o amigo “segurar” a reunião enquanto você
não chega. Pede-se para a sogra levar as crianças na escola. Pede-se para a
amiga te acompanhar ao pilates. Pede-se um sorvete. Pede-se a revista na banca.
Pede-se o salto emprestado para a prima querida. Pede-se um aumento para o
chefe. Pede-se férias adiantadas.
Pedir é um ato muito comum. E, particularmente, acredito que não
exista nenhum problema em pedir.
Mas, hoje, trago a reflexão a respeito do pedido porque
verbalizar um pedido é muito fácil. No entanto, tenho observado que a
verbalização pela gratidão dos pedidos realizados, não acontece com a mesma
frequência do que os pedidos feitos.
Por exemplo, estava em uma loja, esses dias, e uma moça
chegou com uma sacola em mãos, e, então disse: “não quero nada”. E,
simplesmente, saiu. E aí, achei a cena, esquisita e perguntei: “o que é isso”?
A gerente da loja, bastante paciente, explicou que essa era uma cliente de
longa data e que, todas as semanas, a gerente separava as melhores roupas (a
pedido da cliente) para levar até a casa dela, para que não tenha que
experimentar na loja. E, então, pensei: “nossa, mas ela não pode agradecer,
simplesmente, pela gentileza”?
Outra situação: uma moça parou o carro e sinalizou para eu ir
até ela. E, então, me perguntou: “onde fica tal rua”? Aí, respondi: “é a de
cima, você vira aqui e já está lá”. Aí, a moça, pisou fundo no acelerador e foi
embora. Aí, falei alto: “de nada”! Rssssss. As pessoas que estavam na rua - e
que viram a moça perguntando o destino - deram risada da situação.
Não pode ser tão difícil agradecer! E, não falo isso pelas
situações apresentadas acima! Falo porque é bem comum quando vou dar aula de
comunicação pessoal, a primeira coisa que os alunos reclamam é da “ingratidão”
alheia. Poderia ficar aqui horas citando casos que já me contaram. Mas, prefiro
trazer a reflexão: por que parece difícil agradecer?
No fundo, no fundo, acredito (e é uma conclusão minha, não
precisa ser a sua) de que as pessoas se acostumaram a ter, facilmente, seus
pedidos aceitos. Pergunte às pessoas que hoje estão na faixa dos 70 anos. Como
era difícil conseguir qualquer coisa quando se morava no sítio, por exemplo.
Imagine-se no seguinte cenário: caminhar um quilômetro para emprestar o carro
do fazendeiro vizinho. Complicado, né? Tão mais fácil hoje, certo?
Mas, as desculpas da correria e do “muito a fazer” estão
realmente revelando uma coisa muito simples na comunicação: a falta de cuidado
com aquele que você aborda! É como não levar o seu interlocutor em
consideração. Ou como minha vó chamaria: “falta de educação”.
Não é necessário teorizar muito para entender que quando se
aborda alguém, é preciso entender a intenção ao fazer tal abordagem. Quando se
faz um pedido, então, é preciso estar bastante consciente daquilo que se está
pedindo. Afinal, você irá “roubar” a atenção do seu interlocutor, duas vezes:
ao fazer a comunicação do seu pedido e o tempo que a pessoa levará realizando o
seu pedido (independentemente de qual seja).
Quando se entende que “comunicar” é interagir com alguém
levando o outro em consideração, dificilmente irá fazer como a moça do carro:
sair correndo achando que as pessoas têm obrigação de lhe servir!
Portanto, convido a você a demonstrar toda a gratidão que
tiver ao longo de um dia. Não porque é feio ou mal educado ser um ingrato. Até
porque, isso é você quem escolhe.
Mas, porque acredito, de coração, que todo mundo merece um
sorriso (e a verbalização, claro) de agradecimento quando pode ou não realizar meus pedidos. A meu ver, é
uma questão de transmitir todo o amor e respeito que tenho a quem me acolhe com seu tempo ou dedicação.