Um dos grandes mistérios da vida é entender aquilo que não é
igual a você! Ser diferente não é apenas um ponto de vista aceito como se fosse
uma mostra de produtos variados (ou até excêntricos) vendidos em Camden Town[1]
(Londres). Até porque, particularmente, penso que seria muito mais fácil ser
diferente em Londres do que em qualquer outro lugar do mundo.
Falo isso porque a “diferença” entre o que você é e aquilo
que espera das pessoas pode, de verdade, ser um abismo. Sei que a palavra
abismo soa um pouco pesada demais. Mas, convido você a colocar, em prática, o
seu olhar diante do diferente. Como você reage àquela pessoa que te incomoda
muito? E ela te incomoda por quê? Pelo jeito dela se vestir? Você não gosta dos
amigos dela? Você não aprecia suas escolhas de vida?
Vou te dar uma forcinha nesse exercício! Sei que você vai
dizer que não faz julgamentos sobre os outros e, num mundo correto, você aceita
todas as tribos, todas as maneiras de ser das pessoas e formas de sexualidade.
Sei! O Facebook está repleto dessas mensagens bonitas de pessoas dizendo que
“quer um mundo melhor” e que acha um absurdo esse tal de “pré conceito” sobre
os outros. Mas, na prática, você já se observou fazendo pré-julgamentos em relação
aos outros?
Vou pontuar uma coisa bem importante antes de dar
continuidade ao exercício da observação sobre o diferente. A palavra
“julgamento” muitas vezes é mal interpretada. Se for pesquisar no dicionário, julgamento
nada mais é do que analisar antes de dar um parecer, assim como o juiz faz. Você
já viu um juiz dando uma sentença sem antes “julgar” um caso? Então, julgamento
é a análise diante de algo. Análise!
Agora, no caso do diferente que você não gosta (pode ser um
assunto religioso – porque sempre dá polêmica), já se questionou por que não
gosta?
Assim como existe nas Redes Sociais um monte de mensagens
compartilhadas sobre o comportamento que os outros deveriam ter, existe também
uma série de prejulgamentos sobre os
outros. Ah, agora a história ficou um pouco diferente!
Digo isso porque observar as pessoas falando é o meu
exercício diário. Não apenas porque a comunicação é a minha área, mas porque
adoro o comportamento humano e a melhor maneira de se observar o “jeitão” de
alguém é deixando essa pessoa falar.
Ocorre, no entanto, num mundo moderno cheio de ferramentas
que permitem a expressão, que nem sempre as pessoas estão, realmente,
observando o discurso do outro. Estão pré-julgando!
Eu diria que a pior maneira de se conhecer alguém é observar
o Facebook dessa pessoa. Não me dou ao trabalho de entrar na página de ninguém
porque, honestamente, se quero conhecer alguém vou pessoalmente até essa pessoa
(ou no máximo, faço um Skype) e tento entender quem ela é.
Mas, sei que está virando regra as pessoas “lerem” os outros numa
passada de olhos no Facebook. Fiquei em choque esses dias quando uma
“conhecida” chegou perto e me disse: “fulana é uma trabalhadora, pena que é
lésbica. Vi uma foto dela no Facebook beijando uma moça.” Outra coisa que ouvi
também foi algo assim: “eu sei que fulana tem um caso com ciclano só pela
maneira como estão abraçados naquela foto que vi no Face”.
Eu tive que rir. E, então, perguntei: “mas, você não vai lhe perguntar
se ela realmente tem um caso com o colega de trabalho?”. A resposta foi: “capaz!
Não faria isso”. E, então, retruquei: “sei, então você acha que a moça tem um
caso no trabalho, faz um pré-julgamento e vem me contar como se você estivesse
falando da qualidade da maçã na feira de quinta?”
Onde quero chegar? Acredito que o pré-julgamento sobre o
diferente, sobre aquilo que nem sempre é possível entender ou que parece um
pouco difícil de digerir sempre existiu na história da humanidade. Mas, é aí
que todo mundo (me incluo nisso) deve prestar atenção! E entender: por que é
que eu não sei lidar com “esse” diferente? E ainda fazer um exercício de
análise e observação. Talvez não se chegue a nenhuma conclusão. Mas, tenho
certeza de que, numa próxima vez em que você cruzar com “esse” diferente, não
será tão estranho assim.
Agora, é uma pena pensar que a não análise sobre o diferente (que sempre existiu) se intensifica
muito com as Redes Sociais. Se a pessoa viaja, é rica. Se tem um namorado, não
é encalhada. Se aparece de saia curta, não tem boas intenções.
Apesar das inúmeras possibilidades de expressão do ser
humano, nunca se foi tão taxativo e tão pouco analítico sobre as pessoas, fatos
e coisas. E não me venha com aquele discurso vazio de que as pessoas que se
expõem merecem ser julgadas. É evidente que existem pessoas que se expõem de
maneira abusiva. Mas, cabe a quem prejulgar?
Então, o que você tem feito? Tem observado o diferente ou prejulgado?
Como anda o seu pré-conceito?
[1]
Quer conhecer um pouquinho de Camden Town? Acesse:
http://mapadelondres.org/2011/04/camden-town-aqui-o-estranho-e-voce/
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