Já
parou para pensar em quanto barulho você escuta ao longo de um dia? Pela
constatação óbvia, muitos não?
Uma das características da nossa era é o excesso de
informação, e junto com ela, vem outra: uma enxurrada de estímulos sonoros.
Quase tudo o que rodeia as pessoas, hoje em dia, tem som. O
seu celular emite uma infinidade de sons. Ainda tem a televisão, o Ipod, o som
dentro do carro, qualquer loja tem música ambiente. Tem o barulho do trânsito,
dos elevadores de prédio (sim, porque o elevador do prédio onde moro parece
esconder um Tiranossauro Rex no fosso). Em alguns supermercados existem
aparelhos de TV que transmitem as programações de notícias. Há televisões
também dentro dos ônibus de transporte coletivo, em algumas cidades. Há músicas
(nem sempre de qualidade) dentro dos ônibus.
Há som nos restaurantes e barulho de gente conversando.
Alguns ainda oferecem, som (ao vivo ou gravado).
Já tentou trabalhar em um café? O barulho da máquina do
expresso chama a atenção de qualquer um. Tem também o barulho dos pratos, das
pessoas arrastando as cadeiras. Famílias inteiras falando alto. Há músicas até
nos parques, por meio da caixas de música espalhadas. Há som dentro de algumas
igrejas.
Essa parece ser mesmo a era dos estímulos! As pessoas são
estimuladas a tudo: a comer mais, a trabalhar mais, a se preocupar mais com
tudo (saúde, família, segurança, sexo) e acabam recebendo estímulos auditivos
também cada vez mais. E essa constatação
não me soa como música para os meus ouvidos!
Há duas décadas,
lembro de ouvir a minha respiração ofegante voltando do treino de futsal. Eu
podia ouvir o meu coração bater muito forte, parecendo que ia sair pela boca.
E, então, ficava ouvindo, durante muito tempo uma composição inesperada ritmada
pelas batidas do meu coração e pela respiração que tentava acompanhar
bravamente, algumas vezes, sem fôlego. Quando o treino era em um ginásio, tinha
que caminhar ainda mais um pouquinho até chegar em casa. Para o meu deleite,
ouvir que o meu coração ia se acalmando conforme as quadras iam ficando para
trás, era recompensador, quase um alívio. Era sinal de que iria ter fôlego para
o treino do dia seguinte!
Há duas horas, não consegui ouvir o que uma pessoa tentava me
falar ao telefone, enquanto cruzava uma rua. Eu dizia “alô, alô”, e a pessoa no
fundo dizia: “não te escuto”. Eu não tenho dúvidas disso.
Tenho um pouco de saudades - e olha que não sou saudosista - daquele momento em que eu podia me acalmar ao
ouvir que meu coração ditaria um novo ritmo,
conforme os sons das passadas. E tenho a sensação que hoje “o mundo” me oferece
tantos estímulos sonoros que “se ouvir” teria se tornado uma prática incomum
(quase uma esquisitice).
Será? Mas, esse não é o grande ensinamento de qualquer ciência
que fala sobre o bem estar? Não é isso que prega qualquer filósofo? Que diz o
pessoal da Yoga? Que falam os grandes gurus? Não é isso que prega a sua mãe?
“Filho, escute o seu coração”, não é isso que elas falam? Se ouvir? Se interiorizar?
Acredito que a era do barulho pode ser bastante estimulante
em um primeiro momento. Mas, e quando o estímulo passa? Não seria necessário
outro estímulo e outro e mais outro?
O que acho contraditório da era dos sons é que cada ser já
tem dentro de si tanto barulho que vem de fora (e de dentro mesmo), que
questiono por que é que as pessoas querem se encher de mais sons? É evidente
que eles são completamente necessários para a vida e manutenção dos sentidos.
Mas, será que tantos estímulos auditivos não estariam encobrindo ou até
apagando alguns sons mais simples, como o barulho de pássaros, o de andar na
rua, os saltos que caminham sobre o piso de madeira? Ou até mesmo fazendo
apagar a singeleza dos sons dos pensamentos?
Confesse, qual foi a última vez que você escutou os seus
passos?
Por isso, hoje, proponho o som do silêncio. Isso mesmo.
Desligue-se de tudo, sente-se em seu sofá ou um lugar bem confortável e
observe. Faça companhia a si. E descubra a agradável sensação do não estímulo!
De não conversar, de não interferir a uma provocação sonora. Apenas escute o
seu redor.
E, o melhor, escute-se, apenas! E, se conseguir, deixe que o
silêncio tome conta de si, tirando qualquer barulho que você, no estímulo de
seus pensamentos, possa produzir.
Perceba o som do silêncio!
P.s: gente, o título não
tem nada a ver com a maravilhosa música Sond of Silence, de Simon e Garfunkel.
Não vou postar a música aqui porque quero que você fique em silêncio.
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