A confiança não nasce ao acaso. Não
escolhe destinos incertos, não se estabelece em pessoas confusas. A confiança
não depende da sorte, depende de verdades.
Esse é um ato muito bonito que temos em
relação aos outros e que, por instinto ou intuição, nos faz reconhecer em
algumas pessoas. E, então, confiamos. É como voltar para a casa. Nós entendemos
que ali estamos à vontade e podemos ser nós mesmos. Podemos confiar.
Para a confiança, não há limites entre o
eu e o outro. Confiamos segredos, pequenas besteiras ou grandes atos,
conquistas ou derrotas, amores ou desafetos. Ela
nos instiga a observar nossos próprios mistérios e nos faz surpreender com os
sentimentos que temos. Quando confiamos em alguém, às vezes ecoamos “um alguém”
que nem sempre reconhecemos. A confiança faz com que nos encontremos. Por isso
que, às vezes (ou muitas vezes), temos mais confiança no palpite de alguém do
que em nosso próprio.
A confiança é um ato que nasce pela
boca. Pequenos fatos nos ajudam a ter confiança no outro: alguém que nos faz
uma gentileza, uma cortesia ou um elogio, um sorriso engraçado que transforma o
nosso dia. Mas, confiamos mesmo naquelas pessoas que, por algum motivo, falaram
algo que nos tocou. Por isso, insisto: a confiança nasce pela boca. As pessoas
depositam sua confiança em nós quando nós dizemos algo que soa próximo, íntimo,
real. Ou porque alertarmos alguém sobre alguma coisa. E, então, a partir desses
discursos, uma relação, em construção, se estabelece. Eu confio em você, que
confia em mim.
E apesar da confiança nascer com o
discurso, uma das maiores formas de se reconhecer alguém em que se pode confiar
é olhar profundamente nos olhos dessa pessoa. É muito prazeroso quando podemos
olhar para alguém que nos acolhe com o olhar. É o ponto máximo da confiança. E
quando as almas se permitem a uma fluidez de sentimentos sem precisar dizer
nada, pronto, a confiança está concretizada!
Não confundamos, no entanto, que
confiança é quando alguém concorda com a gente. Nada disso! A confiança é
quando nos sentimos livres para debatermos nosso ponto de vista sem sermos
atacados. É quando entendemos que podemos abrir, a alguém, um medo, uma
insegurança, uma vergonha, tristeza ou incoerência ou até mesmo um grande
problema sem que o outro tente nos diminuir, nos humilhar ou nos enquadrar em
seus moldes.
A confiança só existe quando entendemos
que o outro é igual a gente, apesar de todas as diferenças. É um semelhante, no
sentido mais puro da palavra. E, como igual, é capaz de sentir o que sentimos e
de compreender que precisamos de um Norte, seja ele uma opinião contrário ou
igual a nossa.
Confiamos em quem é verdadeiro. Em quem
não tem interesses, em quem não nos julga.
Por isso, a perda da confiança é tão
dolorosa. Podemos abrir o nosso coração ou a nossa vida às pessoas que utilizam
a nossa confiança com vários propósitos. Que podem utilizar essas informações,
inclusive, contra nós. Ou isso nunca lhe aconteceu?
O que ocorre é que, a confiança é um
muro que despenca de uma só vez. Se confiamos nossa vida a alguém que fez
várias coisas legais conosco (tijolo a tijolo), mas que, por qualquer motivo mostrou-se
obscuro em suas intenções, dificilmente voltaremos a confiar nessa pessoa
novamente (o muro despenca) da mesma maneira. Pode ter sido um segredo que foi
vazado ou a maledicência do outro ou ainda um julgamento sobre você pautado em
algo que foi dito. A confiança não resiste às más intenções.
No entanto, é possível perdoar alguém
que quebra a nossa confiança. Sem sombra de dúvida. Mas, para que a confiança
seja estabelecida novamente, é necessário que esse muro seja reconstruído, novamente tijolo a tijolo até que se torne uma fortaleza. E que fortaleça novamente
uma relação.
Acredito, de coração, que todas as dores
entre duas pessoas possam desaparecer. Mas, para isso, é preciso que o tempo
faça o seu trabalho e que a verdade volte a aparecer. E, então, a confiança
comunica aquilo que ela veio fazer: mostrar quem nós realmente somos.
2 comentários:
Parabens! perfeito... é isso!
Obrigada, Julia! Seja sempre bem-vinda!
Postar um comentário