Essa é uma época do ano muito propícia para “deixar ir” tudo
aquilo que não se quer mais carregar. No mundo todo, há poucos dias (há poucas
horas, na verdade) muita gente pediu por coisas melhores ou fez oferendas, orações, para
que o ano trouxesse novidades.
Os anos sempre trazem novidades. Se não com você, com alguém
perto. Algum primo que se casou, um filho que nasce, uma mudança de casa, um
amor novo. Mas, para que novidades ocorram com você é preciso comunicar, a si
mesmo, que novas coisas vão entrar na sua vida e que velhas coisas (hábitos,
jeitos, tradições ou preconceitos) terão de sair. É o “deixar ir”.
E não é fácil “deixar ir” porque, em geral, as pessoas até
falam aquilo que desejam ser, mas não percebem que é preciso uma mudança de
comportamento para que as coisas realmente aconteçam. Para que o novo entre! O
que pode representar um certo “sacrifício” para alguns. Você gostaria de um
relacionamento mais saudável, mas não quer largar sua relação tóxica? Então,
não está se comunicando conscientemente consigo mesmo (o famoso: “não quer se
ouvir").
Não existe nenhum problema em “deixar ir”. É preciso seguir o
fluxo da vida e, muitas vezes, é necessário tomar decisões, por vezes difíceis,
e “deixar ir” até mesmo quem mais amamos. “Deixar ir” não é uma ingratidão, pelo
contrário, mas pode parecer por quem foi deixado. Acredito, do fundo do
coração, que as pessoas não precisam ter a mesma linha de pensamento para
conviverem ou coexistirem. Mas, é preciso respeito. A ausência dele é um dos
principais fatos que fazem as relações minarem. E, quando isso acontece, muitas
vezes é preciso “deixar ir”.
Aprendi um ritual importante para não “deixar ir” batendo a
porta na cara das pessoas. “Deixar ir” pode ser um ato suave e cheio de
gratidão que, com a experiência e o tempo, se faz com mais destreza. O primeiro
deles é ter certeza de que se quer “deixar ir”. Se todas as suas fichas se
esgotaram e não se chegou a nenhum denominador comum em uma relação (amorosa ou
de amizade), então, agradeça o aprendizado e deixe a pessoa ir.
Esse não é um ato de bondade, mas de gratidão mesmo. Demorei
certo tempo para entender que as pessoas que não gostavam de mim poderiam me
ensinar muita coisa, como o respeito e o amor próprio, por exemplo. Com o
tempo, essas relações foram diminuindo cada vez mais. E, naquelas relações que
mantenho e vejo que há falta de respeito, não pestanejo mais: garanto o direito
de ser respeitada. Se assim não for, “deixo ir”.
“Deixar ir” é um movimento cíclico. Pessoas vêm e vão na
vida, entram e saem da rotina. Amigos próximos e muito unidos podem deixar de
se ver por meses, assim como aquela colega de trabalho que não era tão íntima
passa a lhe reencontrar. Tudo depende do momento que se vive. Por isso, “deixar
ir” é o oposto do apego. Não se apegue às pessoas. Ame-as e as deixe ir quando
necessário porque, tudo aquilo que é movido pelo amor, volta.
É preciso “deixar ir” tudo o que não lhe faz mais bem. Pode
ser um pensamento sobre você mesmo. Um hábito antigo. Um medo ou insegurança. Um
jeito de falar. “Deixar ir” é uma prática diária (ou deveria ser).
Particularmente, “deixei ir” coisas que para mim faziam um
mal danado, como os que me julgaram de maneira errada, as relações que não me
traziam trocas verdadeiras, ilusões sobre mim mesmo (vixi, não foi fácil!),
formas de trabalhar, de aprender, de entender o mundo. Sei que ainda “deixarei
ir” muitas coisas. Mas, sempre com a certeza de que “deixar ir” é um recomeço.
É a comunicação de algo “novo” que todos (inclusive eu) buscam!
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