Assim como toda criança da minha época, gostava muito de
pular. Adorava jogar queimada com os colegas de sala até ficar com as bochechas
vermelhas. Gostava de elástico, pique-esconde e corda. Gostava de quase tudo o
que representasse pular. Mas, o que mais gostava era de estar em uma piscina.
Piscinas sempre tiveram uma conotação diferente de qualquer
outra coisa que eu fizesse na vida durante a infância. Era quase como um
santuário: um lugar onde eu poderia passar muito tempo sem me importar com
nada. Poderia deixar a pele enrugada como a de um ancião, que não fazia
diferença. Nadar era o extremo do prazer, da alegria, da representação de algo
feliz.
Não à toa, durante muitos anos - até que saísse da infância –
eu pedia a Papai Noel que eu me mudasse para o clube que eu frequentava porque,
assim, eu poderia ter uma piscina olímpica todos os dias na minha vida. Eu não
queria só uma piscina, queria morar no clube mesmo, com as cadeiras, o
guarda-sol, todas as árvores enormes e aquela gente toda. Eu, honestamente, não
me importaria de dividir o clube com as pessoas. Apenas queria morar nele.
Eu só não sabia que quando pedimos coisas ao Papai Noel, elas
acontecem, mesmo que de um jeitinho um pouco diferente. Vinte anos se passaram
e as piscinas sempre fizeram parte da minha vida. Virei nadadora. E, um belo dia, uma técnica, observando a
minha adoração pela água, me perguntou: por que você não nada no mar?
Uau! Como assim? E, então, com um frio enorme na barriga, me
deparei com a piscina mais legal que eu já tinha visto na minha vida: um grande
mar azul! Não que eu não tivesse entrado antes no mar, mas era a primeira vez
que iria nadar no mar, distante da areia. Foi minha primeira travessia!
Lembro-me até hoje que quando entrei no mar, tive vontade de voltar. Tive
vontade de chorar! Mas, tremendo de medo, entendi que eu poderia ter exatamente
aquilo que eu mais gostava na vida: nadar abraçada por muita água.
A sensação de estar no meio do nada, longe de qualquer
segurança, enfrentando às vezes frio, ondas estranhas e água salgada podem soar
pouco romântico para quem nunca fez uma travessia. Mas, apesar de tudo isso,
posso garantir que essa é a sensação mais leve e tranquila que alguém pode ter
(ou que eu já tive, pelo menos, pois sei
que tem gente que não gosta de água). Não é só a sensação de paz, mas a certeza
de que Deus confia em você porque se você não nadar, pode morrer. Então, só lhe
resta nadar e, no meu caso, com um sorriso no rosto de fora a fora porque, para
mim, nadar é como não pensar. Apenas nado.
Não foi uma, nem duas, nem três vezes em que senti, enquanto
fazia uma travessia, uma imensa sensação de realização. Ficava nervosa antes de
entrar no mar, treinava mais do que devia para garantir meu desempenho, mas
nada disso realmente importava. O que queria -
e tudo o que queria - era a certeza
que eu poderia voltar a nadar no mar. E fiz isso durante muitos anos.
E, foi a partir desse momento que eu entendi que quando
fazemos exatamente aquilo que amamos, enfrentamos qualquer desafio. Mas, para
isso, precisamos assumir, para nós mesmos, o que é felicidade. Eu não havia me
dado conta do porquê eu queria me mudar para o clube quando era criança. Mas,
hoje entendo que o mar, assim como a piscina, são presentes que me dou quando
posso. Não sou a mesma nadadora, não tenho mais o mesmo desempenho, mas dar
minhas braçadas é ainda a garantia de um presente muito legal. E quem não gosta
de ser presenteado?
Por isso, lhe aviso: cuidado com o que pede ao Papai Noel.
Porque tudo, mas tudo mesmo, pode se realizar!
2 comentários:
M A R A V I L H O S O.... é surpreendente como a natureza conspira quando nos comprometemos... querer e acreditar é uma forma de compromisso com o que desejamos e saiba que é isso mesmo... A providencia Divina se move quando damos o primeiro passo de fazer aquilo que nosso coração deseja... Parabéns pela história, inspiradora. Danielle
Oi, Danielle. Muito obrigada pelo seu comentário. Seja bem-vinda!!! Participe sempre! :)
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