Tenho um parente que fala assim: “estou naquele momento
espelho”. A primeira vez que ouvi isso, achei estranho e perguntei: “o que é
isso”? E, então, o parente disse: “é quando eu reflito sobre as coisas”. Achei
engraçadíssimo!
E, então, adotei a máxima: em qualquer ocasião que se é
necessário refletir sobre algo, existe o “momento espelho”. E o momento espelho
é completamente estendido também à comunicação.
Na maioria dos cursos que dou, brinco com os participantes: “olha,
a partir de hoje vamos começar a praticar a comunicação de uma maneira
diferente. Vamos entender que tudo aquilo que falamos é responsabilidade nossa mesma - o
que os outros entendem é problema dos outros, mas o que falamos é problema
nosso - e que não é nosso diabinho interno que deixa escapar aquela frase mal
colocada!” A maioria, no começo, leva a afirmação na brincadeira, mas logo,
logo percebe que a brincadeira é coisa séria.
Acredito que as
pessoas realmente têm boa vontade na hora de se comunicar uns com os outros. No
entanto, como um mal que possa acometer a quase todo mundo, aos poucos – e
talvez com a natural intimidade – as pessoas deslizam na maneira como se
comunicam. Entenda “deslize” como uma série de dificuldades comunicativas.
A principal delas é, sem dúvida, não ter consciência daquilo
que se está falando. Acredito que você, leitor, já deve ter reparado que, de
vez em quando, observa alguém do seu escritório ou da sua casa
falando desaforos, coisas “atravessadas” ou passando do ponto por pouco. E
ainda complementa: “pronto, falei”.
Comunicar não é uma arte e não é necessário ser o Chacrinha para
se comunicar bem com os outros ou, até mesmo, exercer a persuasão. Mas, é
preciso ser alguém que pratique o respeito em qualquer situação dialógica.
Respeito mesmo! E é aí que entra a consciência. Como irá respeitar alguém se
não presta atenção naquilo que fala? Onde está sua consciência nessas horas?
Muita gente pode justificar-se em virtude das tensões do dia
a dia ou considerar uma situação ruim que passou para lançar aos outros
provocações, ataques gratuitos, críticas improdutivas ou ofensas diretas ou
indiretas de qualquer ordem. Mas, pense um pouco: se você precisa metralhar
palavras ruins aos ventos é preciso admitir que algo dentro de você não está
bem, mesmo que você não saiba disso. Além disso, se você não está bem e despeja
palavras ruins, isso não melhora seu estado de espírito. Melhora? Talvez piore,
porque poderá contaminar os demais com sua insatisfação. E, só porque você não
está bem, se sente no direito de falar ou julgar ou ainda irritar os outros?
Que egoísmo!
E, nessas horas, o mais curioso é que, em geral, quem faz uma
ofensa ou desaforo não tem a mesma coragem para pedir desculpas. Ou se ofende
quando alguém retruca ou lhe coloca em seu lugar. Mas, é que você se esquece de
que alguém, assim como você, também pode estar no seu mal dia e também não saiba
dominar o seu diabo interno. Veja só que coincidência! Ou melhor, alguém que
está em seu ótimo dia vai lhe mostrar o seu diabinho para você!
Quando se diz algo pesado ou uma ofensa, existem, em geral,
duas opções: refletir um pouco sobre o que você está sentindo, antes e depois de
abrir a boca, ou culpar o outro pelo seu mal dia, que já estava mal antes de
você dialogar.
Você pode domar esse diabinho que tanto lhe atrapalha. Não
seria o momento de se recolher para observar o que lhe está causando angústia
ou qualquer outro mal? Ou você não pratica o “momento espelho”? Sugiro que se olhe
no espelho - sim, porque é um momento literalmente de reflexão - e questione o que você está sentindo e por
que você está sentindo aquilo. Ou, por que você não está feliz com o seu
trabalho, casamento ou amigo ou conta bancária? Não importa! Cada um tem um
desafio diferente, todos os dias. Mas, não olhar com dignidade para os desafios
só acaba por refletir numa fala pesada, carregada de sentimentos confusos.
E, então, diagnostique seus sentimentos, sem medo do que vai
encontrar! Feito isso, é hora de separar o joio do trigo. Ou melhor, entender que
você está tendo esse sentimento, mas os outros não. Certifique-se que, mesmo que não consiga
resolver o seu problema imediatamente, que você irá “domar” seu diabinho e que
não irá descontar em ninguém suas aflições. Afinal, deve haver algum amigo que
possa ouvir com amor e coração aberto as suas angústias, após o expediente. Então,
não existe motivo para metralhar chatices!
E, mais: se você estiver em um dia tão ruim que tem vontade
de sair chorando no meio da rua, indico-lhe uma atitude muito simples e muito
valiosa: ajude alguém! Abrace uma criança, ajude um velhinho a atravessar a
rua, alimente a quem precisa ou escute os problemas da sua colega de mesa, no
trabalho. Ajudar aos outros, principalmente quando precisamos de ajuda, não é
só um sinal de altruísmo! É uma maneira de ajudar a nós mesmos, porque somos
capazes de perceber que nossos problemas não são assim tão ruins quanto
parecem. E que, se olharmos com amor e fé para nós mesmos, ainda somos capazes
de ser pessoas mais humanas!
E, naquele “momento espelho”, você passa da raiva para a
bondade! E, agora sim, é capaz de ver exatamente aquilo que queria ver refletida
no espelho: o amor! Pensando bem, esse momento espelho não é ruim! Basta
refletir um pouco!