Esses dias li uma frase em um livro que foi a comprovação de
algo que eu desconfiava há muitos anos: não somos ensinados a olhar para os
nossos sentimentos até que eles comecem a nos sufocar.
De uns anos para cá, comecei a observar mais a fundo as
conversas que tenho tido com amigos e também conhecidos (e até mesmo com
estranhos). Como estudiosa da linguagem, sei que existe um canhão de desejos e
sentimentos que ficam evidenciados quando falamos, mesmo quando não queremos mostrá-los.
E, então, passei a observar mais os discursos das pessoas, não com o intuito de
chegar a alguma conclusão ou encontrar “a verdade” (mesmo porque verdade não
existe. Existem pontos de vista sobre a vida) Enfim, queria observar, apenas.
E, então, quando alguém me contava uma história, ao final
(quando sentia que não seria muito invasiva) perguntava: como você está se
sentindo com isso? A maioria respondia: não sei! A pessoa não sabia mesmo, não
era preguiça da sua parte. Simplesmente não sabia o que fazer com aquele
sentimento. Não havia adjetivos para ele.
Observei também que muitas pessoas tinham vergonha de ter um
sentimento. Então, por exemplo, quando eu perguntava: você ficou chateada(o)
com essa história toda? A pessoa me respondia: imagina, eu não!
E comecei a questionar o porquê um sentimento deveria ser
escondido para nós mesmos. O que nos faz ficar vivos são nossos sentimentos! Não saímos de casa
e deixamos nossos sentimentos no guarda-roupa. Não à toa, às vezes chegamos ao
trabalho com uma cara não muito boa. E naquele dia alguém pergunta: aconteceu
alguma coisa? E só aconteceu porque estamos sentindo algo. Parece óbvio isso,
não? Mas, no dia a dia, nem sempre identificamos nossos sentimentos.
Uma amiga me falou que se ela contasse todos os sentimentos
dela no trabalho temia ser mandada embora. Eu disse, mas por que você precisa
contar? Acredito que os ruídos de comunicação acontecem por vários motivos, mas
um deles, sem sombra de dúvidas, é quando não sabemos o que estamos sentindo e
queremos verbalizá-los. Estamos bravos com o trabalho? Com o cliente? Com os colegas?
Com a família? Com os quilinhos a mais? E aí, como somos relacionais e no
Brasil tendemos a contar nossa vida pessoal para os colegas de trabalho,
achamos que eles também têm que nos ajudar a resolver nossos problemas
pessoais. No trabalho, qual é o sentimento com o trabalho? No relacionamento,
qual é o nosso sentimento com a pessoa com quem nos relacionamos?
Acredito que não precisamos expressar nossos sentimentos o
tempo todo. Nem seria viável. Mas, que tal identificá-los?
Uma vez ouvi de uma pessoa assim: se eu fosse lhe contar
todos os meus sentimentos acredito que não seríamos mais amigos. E, então lhe
disse: perfeito! Agora eu sei o que sente por mim e não precisa esconder os
seus sentimentos mais para você, porque para mim eles estão nítidos.
Eu já escutei tanto sobre sentimentos nesses últimos anos,
mas um tipo de sentimento me chama muito a atenção: o que as pessoas esperam que você seja por elas. E, então, identifiquei que esse é um método bastante
doloroso de pedir ajuda, já que, em geral, afasta as pessoas. Se você não
identifica um sentimento é possível que exija do outro que ele identifique o que você está sentindo. É bastante injusto porque como é que podemos saber o que se
passa na cabeça de outra pessoa?
E é aí que repito: que tal identificar o que estamos
sentindo? É claro que não temos sentimentos nobres sempre. Aliás, não temos
sentimentos nobres muitas vezes ao longo de um dia. Mesmo assim, em vez de
fugir dos meus sentimentos, entendi que estava na hora de entendê-los. Mesmo os
menos legais, comecei a observar e não julgá-los mais. E mais: comecei a anotar
que sentimento existia em determinado momento para ver se era recorrente. Foi aí
que percebi que o que sentia podia ser passageiro ou não, dependia do que eu
gostaria de fazer com aquele sentimento. E para isso é preciso se despir para você
mesmo, com a certeza de que o que vá encontrar pode não ser bom.
Foram anos sondando os meus sentimentos e os dos outros e
então, não cheguei a conclusão alguma. Sabe por quê? Sentimentos não são
exatamente conclusivos. Apenas sentimos algo em um determinado momento.
Acredito que eles aparecem para percebermos algo e não necessariamente nos
acompanharão pelo resto da vida.
E, então, entendi também que nos despedimos de alguns
sentimentos como quem se despede de um parente muito chegado. Aliás, de alguns deles
desapeguei-me completamente como quem deixa uma pessoa em uma estação de
trem daquelas bem velhas. Sem olhar para trás, apenas fui embora na esperança
de que nunca mais retornariam. Não é que funcionou?
Ainda continuo sentindo um bando de outras coisas! Mas, no
ritmo do meu coração, os sentimentos vão e vem dando novos passos a antigos
hábitos sem esperar que eles me sufoquem para então percebê-los.
E falo isso com todo o meu
sentimento!
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