De duas semanas para cá, as manchetes dos jornais de todo o
país têm sido sobre as inúmeras manifestações nas principais cidades brasileiras.
Aliás, até em cidades do interior.
Um movimento que se iniciou por causa do aumento, em vinte
centavos, da passagem do transporte coletivo da cidade de São Paulo. Mas,
sabe-se que o motivo da voz coletiva que se ergueu Brasil afora, não é só por
isso.
O brasileiro está mais do que cansado de ver impostos pagos
em meses de trabalho, não se reverterem nunca naquilo para o qual deveriam ser
destinados: serviços públicos de qualidade. Apesar de saber que alguns desses
serviços melhoraram nas últimas décadas, ainda há muito trabalho a fazer. A
saúde pública é um caso desses. Exemplo mundial no tratamento de portadores de
HIV é a mesma que não oferece serviços básicos, como exames simples, por
exemplo.
Também é difícil acreditar que nas maiores cidades do país o
transporte público é ineficiente. Basta tentar pegar um ônibus nos momentos de rush! E fora dele, é preciso paciência
para aguardar o coletivo que passa apenas de 40 em 40 minutos. Quem não usa
esse meio de transporte talvez diga: ah, mas isso não é um problema. É sim!
Menos pessoas usando o transporte coletivo significam mais carros nas ruas. E
mais poluição e mais demora para se chegar em casa. E menos qualidade de vida,
com certeza.
Mas, isso são apenas dois exemplos do por que o brasileiro
está cansado. O cidadão tem sido protagonista de uma história que não muda
nunca! Sem ensino decente, sem saúde, sem transporte, sem planejamento urbano. E
mais, muitos ainda: sem água potável, sem polícia, sem comunicação (ou
telecomunicações), sem bombeiros, sem limpeza pública. E então, a voz do Brasil
resolveu falar!
Até hoje, foram inúmeras manifestações. A maioria pacífica!
Essa voz coletiva, em várias tonalidades do português brasileiro, estava
guardada por tanto tempo que, agora, é difícil abafá-la, mesmo com a ação da
polícia. Mesmo com a indiferença de muitos partidos políticos!
As manifestações expõem a grande ferida da alma do brasileiro
que é a de ter que esperar indefinidamente por um milagre de transformação dos
serviços públicos. Para que esperar mais se é possível cobrar?
Atribuo as manifestações a alguns motivos: uma consciência
maior do brasileiro, uma busca por qualidade de vida (que antes não era tão
evidente), uma tentativa de não ser mais passado para trás!
Mas, também é digno de nota que o brasileiro tem utilizado
melhor a comunicação através das redes sociais. Muitos desses protestos foram
marcados via Facebook, por exemplo. E
que eficiência que têm as Redes Sociais! Milhões de pessoas têm saído às ruas,
todas as noites, em protesto e em cidades que antes era inimaginável qualquer
ação popular. É a comunicação dando uma forcinha para a mobilização nacional.
Mas, ainda falta muita informação na hora de escolher um
político! O brasileiro também está cansado de ver seus “representantes”
elaborarem projetos sem propósitos que são colocados em votação. Nesse caso, não
adianta terceirizar a culpa! Se não se analisa bem seu candidato (seja ele
vereador, prefeito, deputado etc) é nisso que dá. Não quero generalizar, mas
muitos políticos brasileiros ainda parecem viver na época colonial: fazem o que
querem! A máquina pública deveria ser administrada assim como uma empresa,
afinal, é o seu dinheiro que está em jogo. E se você coloca esse valor na mão
de alguém que não tem valor nenhum, joga-se dinheiro fora. Simples assim!
Portanto, acredito que existem duas maneiras de se protestar.
Ir às ruas, exercer sua voz, seus direitos, garantir a sua liberdade de
expressão e reclamar. Sempre! Mas, é preciso também exercer a voz coletiva para
limpar a política suja e corrupta, de pensamento pequeno, preconceituosa e
indigna que não propõe nada nem coisa alguma! Esse cenário tem que mudar. E
para isso, essa voz, não pode se calar nunca! Inclusive a sua!
p.s: enquanto escrevia
esse texto, foi anunciada a revogação do aumento da tarifa da passagem em São
Paulo e Rio de Janeiro.
p.s1: queria fazer
parênteses no assunto “violência nos protestos”. Há muita gente reclamando dos
protestos afirmando que há sempre violência. É preciso um pouco de frieza
(apesar de haver quase uma comoção nacional ) e distanciamento para analisar a
violência nesses casos. É claro que existem oportunistas que vão se valer
dessas mobilizações para saquear, quebrar bancos e por aí vai. No entanto, sabe-se
que os movimentos, em sua maioria, tem sido pacíficos. E que essa voz coletiva
não se cale enquanto os movimentos forem pacíficos, afinal, está mais do que na
hora de ser ouvida.
3 comentários:
Reflexão bastante pertinente, interessante, coerente! Vou tentar acrescentar alguns aspectos bem rápido: 1)Os tais vinte centavos, em alguns lugares já corrigidos e outros em processo, parecem ter sido a gota d'água. O brasileiro está cansado do excessos, do jeitinho, da falta do descaso e de transparência no trato com a coisa pública por quem de direito, de tanta impunidade, injustiça social, carga de impostos e de do precário serviço público e chutou a lata, a tampa do balde, jogou tudo pro alto; 2)Por isso, o movimento é difuso, sem lideranças, sem participação partidarização, outra característica básica; 3)Representa a força da redes sociais pelas terras tupiniquins. Até então ela tinha aparecido em outros partidos, agora está se manifestou aqui mesmo. Agora o que acontecerá daqui para a frente? 1)Devemos todos aproveitar esse momento para refletir bem o futuro desta nação que parece acordar mesmo do seu sono entorpecedor dos nossos atos pregressos. Toma que seja isso mesmo. 2) É hora de dar um basta nos políticos tradicionais e pra começar poderíamos criar alguns movimentos conscientes tipo o fim do voto obrigatório, por exemplo. Venho defendendo essa bandeira há tempos! 3)A criação de uma consciência coletiva consciente. Cobrar com clareza o verdadeiro papel dos políticos como mediadores dos interesses da sociedade e não deles próprios, uma maneira seria um movimento para tirar os altos salários e as benesses, sem falar na forma de financiamento eleitoral.4) Consciência individual. Precisamos mudar a nós mesmos. Só assim poderemos liderar e conseguir a mudança que realmente queremos para esta não. Aí sim, o gigante despertará com toda sua força neste limiar de século e de transformações da consciência humana!
Muito obrigada, José, pelo seu comentário e por dividir suas opiniões com a gente!
Abraços.
Alloyse, chega a ser revoltante o que os principais meios de comunicação, leia-se canais de televisão, estão tentando fazer com a população, e graças a Deus em vão! Na sexta feira, antes do pronunciamento da presidente Dilma, que não falou absolutamente nada de consistente, vimos no Jornal Nacional uma longa série de imagens do ataque dos vândalos, na tentativa de fazer com que a população se coloque contra os manifestantes.
Hoje, no entanto, após a voz do ilustre Ex-ministro da Educação Cristovam Buarque e do jornalista Ricardo Boechat, a mídia resolveu assumir o mesmo discurso deles, dizendo que vandalismo é o que o regime vigente faz com a população, quer seja nos transportes, na saúde, na educação e na segurança pública. Realmente pagamos muito para receber praticamente nada!
Vamos sim continuar apoiando as manifestações e fazer as reivindicações! Este país que é a oitava economia do mundo tem muito mais a dar a seu povo e o seu povo tem muito a aprender sobre cidadania, respeito e ética!
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