Uma vez entrevistei uma estelionatária que havia aplicado
golpes em velhinhos e que, por isso, estava presa. Fui conversar com a moça, um
pouco mais velha do que eu, e então comecei a fazer algumas perguntas, em uma
sala reservada da delegacia. Nem bem ela havia respondido a primeira pergunta e
eu já estava tocada com o drama dela. Dizia a moça presa: filha, eu sou pobre,
tenho quatro filhos para sustentar e ainda fui abandonada pelo marido. E,
contou uma série de outras situações críticas e muito difíceis. Eis que, em
algum momento, eu perguntei: a senhora aplicou os golpes? E, então, ela disse: não,
não faria isso nem se morresse de fome.
Ao terminar a entrevista, me virei para o delegado e então
questionei se a moça presa era mesmo uma estelionatária. Foi, então, que o
delegado coçou a barba e me disse: nada do que ela te contou é verdade. Ela sempre inventa essas histórias para chantagear as pessoas.
Meses depois, fui cobrir novamente um novo tipo de golpe que
estavam aplicando na praça. E novamente me deparei com aquela moça. Ela estava
com o cabelo mudado. Não acreditei quando a vi! Ela já não havia sido presa? E
então, me apresentei a ela e disse que havíamos conversado meses antes. Ela jurava
que não me conhecia.
A presa começou a contar a história da sua vida antes mesmo
que eu abrisse o bloquinho para fazer as anotações. E, me disse que tinha vindo
da Bahia e que passava necessidades e que o pai morreu e que estava perdida na
cidade e que era inocente. Ufa, um desespero só. E, foi então, que perguntei dos
quatro filhos. Que quatro filhos? – ela questionou. Abaixei os olhos, terminei
a entrevista e saí da sala. E, então, entendi o que o delegado tinha dito da
primeira vez. A mentira vira verdade quando acreditamos nela, mesmo que a gente
se esqueça do que contou em uma mentira. Nunca duvidei do sofrimento daquela
moça. Imagino que ela não tenha tido uma vida fácil, mas ficou mais do que
claro que ela mentia tanto para aplicar os golpes, quanto para si mesma.
E foi nesse dia que entendi que as palavras que falamos tem
força para nós e vira realidade quando a repetimos para os outros. E, podemos
falar tantas mentiras para nós mesmos que, nem sempre, nos damos conta se há verdade
no que falamos.
Na Índia, cada palavra que falamos é considerada um mantra
porque se a falarmos várias vezes vira concretude do nosso pensamento. Profundo
isso, né?
Só que vocês já repararam como gastamos tempo com falsas
verdades? Quantos dos nossos pensamentos são verdadeiros com os nossos próprios
objetivos e desejos e quanto da nossa fala é reflexo disso?
Uma vez, um amigo
me disse: por que damos dignidade a quem nos faz mal? Por que permitimos nos
importar com as besteiras que as pessoas falam sobre nós? Por que perdemos tempo lutando contra o que não nos acrescenta em vez
de olharmos para os nossos sonhos e as pessoas que podem nos levar a eles?
E foi aí que eu disse a esse amigo: o meu mantra, a partir de hoje,
é a verdade, apenas. A minha verdade! E, então, conheci um monte de gente que
transformou suas palavras em verdades e acreditou nelas, com tanta força, que
não precisaram mais de mentiras para evitar seus sonhos.
Assim como o ator Ariel Goldenberg, que comoveu o país
inteiro através da internet, com um apelo para que o ator americano Sean Penn
venha assistir a estreia do filme dele. Ariel tem síndrome de Down e é um dos
protagonistas do longa Colegas, um
filme que fala de uma viagem de três amigos com Down. Ariel não tem poupado esforços
para que o convite chegue até Sean Penn. Ele criou um vídeo, convidou atores
famosos para fazer um apelo ao ator americano e colocou o vídeo na internet
espalhando, principalmente, pelas Redes Sociais. Não há dúvidas, virou febre!
O que Ariel fez foi transformar suas palavras em mantra. Ele
acreditou tanto nos seus desejos e sonhos que permitiu transformar o discurso
da verdade em verdade verdadeira. Ninguém sabe se Sean Penn vai mesmo assistir
ao filme ao lado de Ariel, dia primeiro de março. O importante é que Ariel não criou
mentiras, obstáculos para não realizar o seus sonhos. Nem deu bola para as
críticas – que talvez não fossem poucas – e continua fazendo das suas palavras as suas verdades. Fico torcendo, Ariel, para que seu mantra vire concretude, porque você
merece que Sean Penn o prestigie. Você mostrou a todos nós a força das palavras, que espero que cheguem ao ator, como um sopro mágico.
Vem Sean Penn! Vem!
p.s: gostaria de agradecer
ao professor e físico quântico, Osny Ramos, por me esclarecer como, na física,
os pensamentos e as palavras viram realidade.
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