Esses dias, peguei
elevador com uma criaturinha encantadora chamada Arthur. Era um menininho de
quase dois anos de idade, que nem falava muito bem direito. Quando entrei no
elevador, ele estava cantarolando qualquer coisa. Foi aí que puxei assunto: - Oi,
qual é o seu nome? - perguntei.
- Oi, eu não te conheço! - respondeu o mocinho. Dei muita
risada com a firmeza dele. E aí, claro, a mãe ficou toda constrangida: - Arthur,
não seja assim. Com essa moça você pode conversar! E, então, eu entendi que não
era timidez do menino. Por precaução, ele e a mãe haviam feito um acordo para o
menino não falar com estranhos.
Quando nós somos crianças, os pais dizem para a gente, como modo
de proteção, para termos cuidado com quem falamos. E faz todo o sentido quando somos
criança. Mas, aí crescemos e, às vezes, nos esquecemos que o estranho não é alguém
em quem confiamos num primeiro momento, até que alguém sinalize ser
possível conversar com aquela pessoa.
Falo isso porque a comunicação evoluiu mais em cem anos do
que em toda a história da humanidade. Se observarmos a comunicação no começo do
século passado, ela se resumia à conversa que acontecia no trabalho (para os
homens) em casa e entre os vizinhos. E para quem estava à distância, cartas e alguns
tipos de correspondências funcionavam muito bem. Na verdade, a comunicação,
durante muitos séculos, se resumia basicamente a isso.
Voltamos
ao século XX: com a invenção da televisão, um novo mundo se abriu, e se
comunicar se transformou em algo mais que não só via telefone ou rádio. As
pessoas passaram ver a vida através de um tubo mágico.
Os
meios para nos comunicar continuaram evoluindo. Depois vieram o fax, a antena
parabólica, a internet e a banda larga, que ajudaram a popularizar as Redes
Sociais. Quando os Smartphones
surgiram, na década passada, pudemos ter acesso a todo tipo de informação, de
uma só vez, através do celular. E aí, aquela conversinha básica pôde acontecer
a qualquer momento, em qualquer lugar. Uma revolução!
Você
já tentou se imaginar sem a internet, hoje em dia? Ou sem o e-mail no seu
celular? Com certeza, poucas pessoas vão dizer que a internet não faz falta. Portanto,
a palavra de ordem, hoje em dia, é “conexão”. Se você não está “in” está “out”, certo? Nem tanto. A quantidade de conexões que fazemos nas
Redes Sociais não significa, necessariamente, qualidade de comunicação e muito
menos qualidade de relacionamentos. Conexão é algo que fazemos quando temos
trocas com um interlocutor, assim como o diálogo só acontece quando conseguimos
“trocar” informações com alguém. Portanto, a conexão não nos garante a verdade
dos relacionamentos, mas garante, aos olhos dos outros, uma chance de acharmos
que temos muitos amigos. Mesmo que isso esteja só no mundo etéreo ou no
Facebook.
Além
do mais, me questiono sobre a segurança das informações das Redes Sociais.
Depois de trabalhar muito tempo com a mídia, entendi que a exposição é um
caminho sem volta. Se nos expusermos de maneira equivocada, será que teremos
chance de nos explicarmos novamente? E hoje, as Redes Sociais não têm quase o
mesmo impacto que a mídia? O que acontece nas Redes Sociais muitas vezes não
vira notícia para a imprensa?
Sei
que as Redes Sociais rendem um assunto que valeria uma nova discussão,
portanto, não pretendo me prolongar. Apenas jogo para você o questionamento:
com quantos estranhos estamos falando nas Redes Sociais?
Pense
sobre isso. Eu quero emprestar a frase do Arthur para encerrar esse assunto.
Hoje, eu digo: oi, não te conheço, mas quando te conhecer você vai ser uma conexão, combinado?
1 comentários:
Isso me lembrou quando minha sobrinha, na época com 04 anos, perguntou a mim e minhã mãe 'o que era um estranho', já que os pais insistiam que ela não falasse com ele, ela queria saber quem era pra poder fugir assim que o visse. Trazendo para um dia a dia, quantas vezes dizemos que entendemos uma informação, mas, depois corremos para um porto seguro pedir tradução um exemplo para sabermos como prosseguir? Isso é muito comum na comunicação online também. Quem nunca repassou uma informação sem checar a veracidade? Ou curtiu uma publicação sem compreender a real mensagem? Quantas pessoas aceitamos sem conhecer e convidamos sem se importar com quem elas são?
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