Uma “fumacinha”
que vai sair de uma chaminé deve anunciar ao mundo que o Vaticano já tem um
novo papa. Uma cerimônia que acontece, em vias de regra, quando o papa morre. Sabemos
que não foi assim dessa vez.
Como
porta-voz de uma das instituições mais tradicionais já existentes, Bento XVI
quebrou todas as regras ao dizer (nas entrelinhas) que suas palavras já não
traduziam mais o mesmo sentido que as defendidas pela Igreja Católica. Ontem,
durante sua última audiência como papa, Bento XVI disse que teve dias de
alegrias, “mas também momentos nos quais as águas estiveram muito agitadas e o
vento contrário”, reafirmando o seu desagrado.
A renúncia
de Ratzinger soou como o início do fim dos tempos para muitos fiéis. Por que o
papa faria isso? Justo Bento XVI, que há tão pouco tempo abriu uma conta no
Twitter para se aproximar dos fiéis?
Apesar dos
esforços, a tentativa de se aproximar do seu rebanho não tem sido tarefa fácil,
tanto para o papa quanto para a instituição que ele representa. Em meio a
escândalos de desvios de dinheiro, centenas de casos de pedofilia e a defesa de
questões morais que mais parecem do século retrasado, Bento XVI sucumbiu aos
discursos católicos pesados demais para serem pronunciados nas mais de sete línguas,
como tradicionalmente fazia. E, optou, elegantemente, pelo silêncio que talvez
nunca seja quebrado.
Ratzinger
alegou, num pronunciamento oficial, que a idade avançada e a saúde frágil
exigiam demais dele para continuar como papa.
Será? O mundo se questiona. Não que
ele fosse unanimidade. Muitos dizem que o papa era tão tradicional quanto a Igreja
e que ele representava um atraso para muitos projetos novos do Vaticano.
Mas, quando
alguém é a “voz” de uma instituição tão tradicional quanto a Igreja, é fácil de
confundir quais palavras, realmente, saíram da boca de Ratzinger com sua aprovação.
Mais do que nunca a Igreja parece, na visão de seus fiéis, uma instituição que
tenta se modernizar, mas ainda não atingiu esse objetivo. Que busca a inovação, inclusive
tecnológica, mas que esbarra em problemas milenares. Então, mesmo que uma
empresa (neste caso, o Vaticano) tenha um porta-voz, que força tem suas
palavras, se elas já não tem mais o mesmo efeito para quem as profere?
A renúncia de
Ratzinger não causou apenas um frisson por causa da escolha do novo papa, mas reforçou
que os discursos desta empresa (a Igreja) parecem, agora, confusos e sem força.
Se Ratzinger
era ou não mais tradicional que a própria Igreja, só a cúpula máxima do poder
católico é que deve saber. É um fato, no entanto, que quando ele faz a
renúncia, está dizendo: quero representar e reafirmar os meus próprios discursos.
Com força em
seu discurso ou na ausência dela, um novo papa deve ser eleito nos próximos
dias. Quando a “fumacinha” sair da chaminé, algum representante do Vaticano vai
afirmar: “habemus papam”.
Ratzinger,
finalmente, poderá dizer aos outros, em sua clausura, o que gostaria de ter dito.
Só que, dessa vez, seu pronunciamento será para poucos.