Todo fim de ano é
sempre a mesma coisa. Eu tenho a sensação de que as pessoas ficam desesperadas
para resolver suas vidas, até o dia 31.
É só prestar um pouquinho mais de
atenção para perceber como as pessoas se alteram. Veja o trânsito, por exemplo:
quando é que temos, em outra época do ano, tantos carros nas ruas? E nas lojas,
então? Esses dias, fui comprar um negocinho no shopping, assim, como quem entra
e sai rapidinho da loja, e às quatros horas da tarde de uma quarta-feira, enfrentei
a maior fila porque a loja estava entupida de gente. E os supermercados, então?
Sem
contar que se você for tentar adquirir qualquer serviço nessa época do ano é
impossível: sabe aquela acupunturista tão indicada pela amiga? Só o ano que vem! Eu
sei que fim de ano é uma correria mesmo e o negócio é se organizar. Mas, trouxe
essas situações para mostrar que existe um fluxo diferente de vida em dezembro
em que, querendo ou não, saímos do ritmo natural que temos. E que, na prática,
isso é, muitas vezes, traduzido por estresse.
Vamos
lembrar que para tudo o aquilo que fazemos ou temos a intenção de fazer usamos
a linguagem. Para fazer compras, você precisa se comunicar. Para organizar sua
logística de buscar filho, assistir apresentação do fim do ano da escola, voltar
para casa, comprar o presente do amigo secreto, passar no banco e sacar o
dinheiro da diarista (ufa!), você usa a linguagem. Falar é concretizar os
nossos pensamentos!
E aí,
que essa ferramenta tão importante do nosso dia a dia, vira quase uma arma. Você
se lembra da situação de entrar no shopping e sair rapidinho? Então, dentro da
livraria onde estava, uma cliente discutia com uma funcionária, aos berros. E a
briga começou, assim, do nada: a moça não encontrou o livro que queria e se
ofendeu. A atendente de mau humor se posicionou de maneira atravessada e aí
começou o conflito. Isso, em Curitiba? Que deselegante!
Tenho
absoluta certeza de que se a cliente não tivesse se irritado e dito: “obrigada”
e tivesse saído da loja, tudo seria diferente. E se a atendente dissesse:
“disponha”, não seria muito melhor?
Por isso, é preciso lembrar que nessa
época do ano, as pessoas estão com os nervos à flor da pele. Não só porque elas
precisam dar conta dos compromissos, mas também porque precisam dar conta dos
seus sentimentos. Aquela pessoa que prometeu emagrecer no começo de 2012 e não
conseguiu – ou não se lembrou disso – com certeza vai refletir sobre esse
assunto agora. O importante é você não entrar
nesse clima de “histeria coletiva”.
E algumas atitudes, muito simples, podem
ajudar. Convidei Edite Faganello, que é focalizadora de grupos de prática de Comunicação Não-Violenta, para nos dar informações sobre como manter uma boa comunicação nessa
época do ano.
[ Na voz de Edite:]
Alloyse, agradeço pelo chamado para conversamos sobre um assunto
tão importante como é a Comunicação Não-Violenta. A CNV entrou em minha vida em
2007 e nunca mais saiu. Descobri que “Palavras são janelas ou paredes. Elas nos
condenam ou nos libertam”, como diz Ruth Bebermeyer.
Inicio minha conversa sobre comunicação com uma pergunta. Em algum momento você já fez a relação entre a
forma como você se comunica e a sua felicidade? A busca da felicidade é um ponto
comum entre todas as pessoas. Se todas desejam a felicidade, por que
continuamos criando situações contrárias a ela?
Meu convite é
conversamos um pouco sobre qual a relação entre Ser Feliz e a forma que
nos comunicamos. Conto com você, leitor, nessa aventura, eu daqui e você daí.
Topa? Precisamos urgentemente aprender novas formas
de estar e se articular com os outros e com o mundo. Vivemos em um momento de
transição importante e para fazermos o salto para uma cultura da paz,
necessariamente teremos que nos auto-educar para transformamos os potenciais
conflitos em diálogos pacíficos.
Vivemos numa cultura de
competição e isso certamente interfere na forma como nos comunicamos. Acredito
que o primeiro passo seja reconhecer que somos violentos e desta forma buscar
alternativas para mudar nossas atitudes. Uma das minhas
hipóteses provisórias é a de que todas as mudanças que realizamos são consequência
do binômio: percepção x atitude. Então, se ampliarmos a nossa
percepção e tomarmos consciência de nossas atitudes, poderemos criar situações
que contribua para o nascimento de uma comunicação genuína e consequentemente
nos tornaremos mais felizes. Pense um pouco com o CORAÇÂO sobre isso.
A comunicação
defensiva que estamos acostumados fundamentada no paradigma ganha x perde, não
da conta do grande desafio que temos que é humanizar as relações. E humanizar
as relações passa necessariamente pela forma como nos comunicamos conosco, com
o outro e com o mundo. Esta humanização está ancorada no paradigma ganha (eu) x
ganha (o outro) x ganha (o planeta).
Existem diversas formas de nos comunicarmos de forma genuína,
compassiva, amorosa. Uma delas já praticada em diversas partes do mundo e no
Brasil já há alguns anos, como a Comunicação Não-Violenta (CNV), criada por
Marshall Rosenberg.
A CNV é um processo que
tem o potencial de nos ajudar a cultivar realacionamentos honestos e nos permite
acessar a nossa humanidade e a do outro. A CNV pratica a busca de sentido COM o outro.
É uma maneira de sintonizar, harmonizar, e de alinhamento entre nós e o todo.
Deepk Chopra, diz que: “A Comunicação Não-Violenta conecta a alma
das pessoas, promovendo sua regeneração”. A prática da CNV nos ajuda a agir a
partir do coração e fortalece nossa capacidade de permanecer humanos.
Como nos conectarmos com nós mesmos e com os outros a partir do
coração?
Marshall, nos apresenta 4 passos para exercitarmos nosso desejo de
nos entregarmos de coração:
a) Observação - Sem julgamentos ou avaliação.
b) Sentimento
– Identificar quais os sentimentos que emergem ao observar aquela ação. (ex.
assustado, irritado, magoado, alegre...)
c) Necessidade
– Reconhecer quais as necessidades estão ligadas aos sentimentos identificados.
d) Pedido
ou ação- Ações concretas que podem enriquecer nossa
vida. “ O pedido é descobrir em vez de decidir”
Em resumo, a prática da CNV nos ajuda a mantermos o foco em: o que estamos observando, o que sentimos, do que necessitamos, o que nos ajuda a enriquecer nossa vida e a do outro. Esta prática pode potencializar:
+ assertividade
+ confiança
+ sinceridade
+ relações saudáveis
+ empatia
Dicas:
- Existe um ditado popular
que gosto muito que diz assim: você quer ser feliz ou ter razão? Minha dica é:
escolha Ser Feliz. As “verdades” são tão relativas, então porque ficarmos presas
a elas, não é mesmo?
- Escute
com atenção, respeito e empática (ao invés de julgar)
- Procure, honestamente, ver as coisas pelo ponto do outro.
- Expresse-se com clareza.
A CNV é uma abordagem que
se aplica a todos os níveis de comunicação às diversas situações. Algo que me
motiva é saber que, da mesma forma que aprendemos a viver/conviver na relação
de competição, também podemos aprender a viver/conviver
cooperando.
Desejo que você continue fazendo boas perguntas a respeito das
possibilidades de como se comunicar com o coração!
[ na minha voz:]
Edite querida, agradeço muito você ter trazido esse conhecimento para nós. Foi enriquecedor, não foi gente? Agora, é só praticarmos. Certo?
Edite querida, agradeço muito você ter trazido esse conhecimento para nós. Foi enriquecedor, não foi gente? Agora, é só praticarmos. Certo?
Para quem quer conhecer um pouco mais do trabalho da
Edite:
Edite Faganello Querer –
EcoEducadora. Pedagoga. Especialista em Jogos Cooperativos. Formação em
Direitos Humanos e Resolução de Conflitos. Trabalha há mais de 18 anos no
desenvolvimento de pessoas em diferentes grupos e contextos. Conferencista em
várias regiões do país. Facilitadora de Jogos Cooperativos e processos
criativos e participativos. Co-inspiradora e parceira na Coíris. Membro da
comunidade Art of Hosting Brasil.
Co-fundadora do Instituto Nhandecy. É facilitadora e coordenadora do Programa Gaia
education do Paraná. Focaliza grupos de pratica de CNV desde 2008.
Contatos:
Grupo de
pratica de CNV retorna em janeiro de 2013 no Hub.
Outras
informações sobre CNV:
Livro:
Comunicação Não-Violenta – Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e
profissionais.Autor: Marshall B. Rosenberg. Editora Ágora
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