Você já pensou que as palavras de um dicionário podem trocar
de lugar? Eu já. Eu acredito que quando a gente fecha um livro, as palavras ganham
vida e pulam de uma fileira para outra. Assim como os brinquedos do filme, Toy Story, que também ganham vida quando as
crianças não estão por perto (rsss.)
Eu sei que parece loucura dizer isso, mas a vida de palavra impressa
de um livro não é nada fácil. Elas nasceram com a grande responsabilidade de
serem úteis, full time. E tem que
estar prontas para você quando quiser lê-las. Por isso, precisam estar
paradinhas nos lugares onde foram deixadas para transmitir significados. Paradinhas
mesmo, como os guardas britânicos do Castelo de Windsor.
Portanto, seu eu fosse a palavra “fortaleza” no dicionário,
trocaria de lugar algumas vezes com “fortificar”, quando ninguém estivesse olhando. Afinal, elas tem quase o
mesmo significado, não é? Claro que não, mas é no mínimo estranho pensar que
falamos as palavras sem prestar atenção nos significados delas. Apenas as aceitamos
e as utilizamos para transmitir mensagens. Você, por exemplo, já questionou o
significado da palavra chocolate? Ninguém tem dúvidas do que é um chocolate.
Por
isso, adoro brincar com as palavras. Mesmo aquelas que tem um único significado
podem ser usadas de diversas maneiras. Chocolate, por exemplo, é o nome do
cachorro de uma amiga, que é todo marronzinho. Veio a calhar!
Existem
outras palavras que se abrem para um leque maior de possibilidades e
combinações. Por exemplo: de vez em quando, a gente tira o extrato da conta,
certo? Para ver se temos dinheiro para comprar extrato de tomate. E quando você
vai ao banco, tem banco para você se sentar? Quem nunca sujou a manga da camisa
chupando uma manga?
O nome disso é polissemia, quando uma palavra produz mais de um
sentido. Outro detalhe que gosto nas palavras é a maneira como as
pronunciamos. Você reparou como é preciso abrir bem a sua mandíbula para falar “articular”.
E como é difícil falar Anhangüera?
Sem contar àquelas palavras que são pouco utilizadas – pelo menos
para a maioria das pessoas – e que quando pronunciadas emitem sons engraçados. Não
me leve a mal, mas você sabe o que é achanar? E você utiliza bem a percha? E
alguém achavascado, te bota medo? Os ginastas usam bastante a percha, que são varas
compridas de madeira que os atletas usam para fazer os exercícios. E achanar,
nada mais é do que nivelar, deixar plano ou rente ao chão. Já uma pessoa
achavascada é alguém grosseiro, rude.
E já repararam como as palavras escatológicas tem, em seu
som, algo que já é meio nojento? Pus, por exemplo, não te dá uma sensação ruim
só de falá-la? E catarro? Que nojo! Elas fazem jus à sua função: transmitem, em
seus sons, algo repugnante mais até do que a própria escrita.
Mas, também existem as palavras que transmite sensações boas.
Nuvem é uma delas. Eu me sinto mais leve só em pronunciá-la. Assim como maçã,
perfume, batom e pipoca. Veja como nenhuma dessas palavras traz antipatia, não
só pelo significado que a elas é atribuído, mas pela alegria espontânea que
temos ao pronunciá-las. Ninguém fica triste ao falar maçã, mesmo não gostando
da fruta. E ainda que você seja alérgico a perfume, quem é que não gosta de um
cheirinho bom?
Quando falo a palavra batom, por exemplo, me vem imediatamente à cabeça a imagem de Jessica Rabbit, do filme animado. Nem todo o batom é vermelho, mas na personagem, a palavra batom cai muito bem.
E pipoca, então? É possível
pipocar várias coisas na mente quando falamos essa palavra. Cinema? Infância?
Amigos? Festa?
Quando falo a palavra batom, por exemplo, me vem imediatamente à cabeça a imagem de Jessica Rabbit, do filme animado. Nem todo o batom é vermelho, mas na personagem, a palavra batom cai muito bem.
E mais! Acredito que algumas palavras só podem ser
pronunciadas na sua língua de origem. Eu tenho uma luminária em casa, mas adoro
chama-la de abat-jour. Também acredito que bath
é algo que vai me deixar mais limpinha do que banho, ainda que em inglês tomar banho seja take a shower.
É a força das palavras. Eu não sei quando a palavra “casa”
virou casa, assim como trabalho virou sinônimo de ofício, assim como trânsito
se tornou o termômetro para o estresse. Talvez algumas dessas palavras sejam
milenares, afinal, até os homens das cavernas tinham uma casa. E, com certeza,
a palavra trânsito só virou sinônimo de inferno de uns tempos para cá. Não
importa.
O
que é legal mesmo é ver que as palavras estão aí para serem utilizadas como uma
grande brincadeira. Eu ainda prefiro acreditar que as palavras que eu escrevo
pulam de uma linha para outra quando fecho meu computador.
O importante é que quando eu o abro novamente, elas estão
muito melhores do que as deixei. ;)
p.s: vocês já assistiram Toy Story?
0 comentários:
Postar um comentário