Falar, escrever, telefonar enquanto está no
computador, ver a mensagem que chegou enquanto trabalha. Fazer tudo ao mesmo
tempo e agora! Isso te parece familiar?
É a
maneira como nos comunicamos hoje. Existem muitas plataformas de
comunicação ou displays, como as pessoas chamam. Mas, isso só foi possível
depois do surgimento das novas tecnologias, como internet banda larga e os smartphones. Produtos preferidos dos Millennials, os jovens de hoje que consomem
informação mais do que qualquer outra coisa.
Será
que eles são mais comunicativos do que as outras gerações? Possível. Se
fizermos uma análise do tempo sobre a linguagem vamos observar que são os
jovens, sempre, os precursores de mudanças e são eles que também representam as
novas linguagens. Sabem por que?
Os
jovens, independentemente da época, querem mudar o mundo. Por isso, ditam moda
e tendências, são os grandes pulverizadores de novos comportamentos e também da
maneira de se comunicar. A BOX 1824, empresa pesquisadora de tendências, fez em
2010 um vídeo chamado We all Want To Be
Young, em que mostra como a força
dos jovens influencia em todos os setores sociais.
Para
falar sobre jovens e a linguagem utilizada por eles, convido Paula Abbas,
pesquisadora de tendências que vai fazer um bate bola com a gente e explicar
melhor como o comportamento dos jovens influencia também na comunicação.
Paula, é
claro que hoje temos mais tecnologias que nossos pais tiveram quando eram
jovens. E isso influencia a vida dos Millennials.
Mas, cada uma das gerações demarcadas (baby boomers, X e Y) tiveram um
comportamento comunicativo próprio. É possível distingui-los?
Apesar de algumas críticas atuais à definição e
generalizações sobre comportamento e linguagem das gerações, acredito que sim,
é possível distinguir comportamentos peculiares a cada geração e seu impacto na
comunicação. Para sempre seremos reféns de nossos primeiros anos de vida. Os
acontecimentos de nosso entorno durante a infância definem, em grande parte,
nosso comportamento na vida adulta. E é considerando o espirito do tempo que
regeu a infância e adolescência destes grupos que podemos fazer uma leitura de
sua evolução comportamental.
Segundo Jean Piaget, um dos mais renomados teóricos do
desenvolvimento cognitivo, é entre 2 e 7 anos que surge a função simbólica
tornando possível atribuir significados à realidade. Entre 7 e 12 anos a
criança se torna capaz de realizar operações mentalmente e à partir dos 12 já
pode criticar os sistemas sociais, propor novos códigos de conduta, discutir
valores morais e chegar às próprias conclusões. Seu desenvolvimento posterior
consistirá em ampliar conhecimentos mas não serão adquiridos novos modos de
funcionamento mental.Por isso, em primeira análise, gosto de distinguir os valores
dos representantes das gerações.
Os baby boomers (nascidos
entre 1940 e 1960) eram, e ainda são,muito centrados no respeito. Isso tem
reflexos diretos na comunicação. Essa geração aprendeu uma língua portuguesa
diferente, muito mais formal, e sua educação primária foi feita através de
livros densos, com forte influência religiosa, o que os tornou excessivamente
exigentes com o jeito 'certo' de fazer as coisas. Sua inventividade era muito
mais restrita ao físico, aquilo que podiam, ver, ouvir e tocar. Os valores
principais residiam no trabalho pesado, na lealdade e na defesa da propriedade
privada.
Já os nativos X (nascidos entre 1960 e 1980) viram a TV
chegar às suas casas. Isso muda tudo. Foram criados em um ambiente de
libertação sexual, de instabilidade econômica e de fortalecimento da era
hiperconsumista. Ouviram de seus pais que precisavam assumir lideranças e lutaram
com unhas e dentes pela liberdade de expressão. É a turma do "eu
primeiro". Idealistas, visionários e hedonistas. Aqui começa uma forma de
expressão mais madura, mais transparente, e uma fase na qual é possível,
permitido e devido falar sobre o que se pensa. Essa é a geração que teve que
redefinir os seus percursos profissionais e se adaptar a uma nova mobilidade
que altera todo o modelo de negócios para o qual se prepararam. Eles viveram a
transição do analógico para o digital, foram os precursores de uma mudança
inimaginável até então. Eles deram o pontapé no futuro da comunicação. Aqui
vemos uma aceleração na forma de se comunicar.
Enquanto o X é o imigrante digital, o Y é o nativo
digital. Também conhecidos como Millennials (nascidos entre 1980 e 2000), os
integrantes da geração Y já vieram inseridos em um cenário no qual a liberdade
de expressão já foi conquistada e a exercitam de forma plena através das plataformas
de redes sociais. Falam o que querem e como querem, e como são
antiautoritaristas não estão preocupados com o julgamento dos pais ou chefes. São
filhos de pais que, culpados por estarem demasiadamente ocupados com suas vidas
laborais, os compensaram com bens materiais criando uma forte associação entre
consumo e felicidade. Essa é a geração do pensamento inovador, da abstração e
do conhecimento intuitivo. Aqui, mais do que aceleração percebemos mais um
elemento típico dos Millennials: raciocinam e se comunicam utilizando informações
completamente desestruturadas. Precisam ligar os pontos entre tudo o que está
acontecendo no mundo.
O que muda o comportamento comunicativo são os novos
modelos de pensamento. O pensamento contemporâneo prega a individualidade, a
sustentabilidade, a reputação, a colaboração. Me pergunto até que ponto a nova
economia revolucionou os valores essenciais dos seres humanos. Será que buscamos
algo diferente de nossos avós? Será que o mote hippie – liberdade, paz e amor –
não é a mesma coisa que individualidade, sustentabilidade e colaboração? Acho
que as diferenças entre baby boomers, geração Y e Millennials são um espectro da lenta
evolução dos valores fundamentais. Hoje, os baby boomers vivem uma concepção
totalmente renovada de terceira idade. Os clichês dos avós idosos de
antigamente já não conversam com novos representantes de uma geração cheia de
disposição, dinheiro para gastar e muita sabedoria. Os seniors de hoje estão se aproximando cada vez mais do
comportamentos e valores dos filhos e netos.
A
Publicidade teve papel fundamental na geração X. Na década de 80 uma marca
ditava o que o consumidor iria usar. Hoje, a publicidade é menos impositiva.
Por que?
Acredito que o justamente pelo fato dos Millennials
estarem no controle da ferramenta mais importante para desmascarar produtos,
marcas e ícones pessoais - a internet. Estamos entrando de cabeça na era da
transparência e da reputação.
Segundo Charles Leadbeater, escritor e conselheiro do
governo britânico, "no século 20 do hiperconsumismo éramos definidos por
crédito, propaganda e pelas coisas que possuíamos. No século 21 do consumo
colaborativo, seremos definidos pela
reputação, pela comunidade e
por aquilo que podemos acessar, pelo modo como compartilhamos e pelo que
doamos.”
A publicidade continua exercendo um papel fundamental
mas o apelo está mudando. Está se tornando mais sensorial, precisa estabelecer
um diálogo entre o consumidor a marca. A máxima da "uma mentira contada
mil vezes passa a ser uma verdade" está caindo por terra. Hoje, uma
mentira contada ainda que só uma vez, se cair em domínio público, pode acabar
com a reputação de uma empresa.
De que
maneira as marcas conversam hoje com o seu público alvo?
A conversa precisa ser clara, madura e uma via de mão
dupla. As marcas nunca dialogaram com o público como se veem obrigadas a fazer
hoje. É a web 3.0. Não basta deixar que o público comente, critique, replique,
é preciso dar resposta aos seus questionamentos.
É importante atentar para o fato de que vivemos um
novo momento de difusão cultural. O planeta inteiro é público do mesmo cinema,
dos mesmos discos, dos mesmos canais de TV. Uma gramática globalizada se
estabelece. Palavras do filósofo Gilles Lipovetsky: " ganha espaço uma
retórica simples, capaz de solicitar o menor esforço do público. Trata-se de se
divertir, dar prazer, permitir uma evasão fácil e acessível a todos, sem a
necessidade de formatação de nenhuma referência cultural particular e
erudita", ou seja, quanto mais verdadeira e transparente for a conversa,
melhor.
A Era da
Informação foi concretizada com a geração Y. Qual o preço que eles pagam pelo
excesso de informações?
O escritor Umberto Eco, do alto de seus 80 anos, detectou que
a internet é útil para o sábio mas perigosa para o ignorante porque ela não
filtra o conhecimento e congestiona a memória. E mais, afirma que o excesso de
informação provoca amnésia.
Na internet não há hierarquia, o que vem ao encontro com a
característica principal dos Millennials, que são totalmente antiautoritaristas.
Na internet cada um conta a sua verdade, produz conteúdo sobre a sua vida e, em
razão dos filtros que refinam e personalizam a informação nos buscadores, os
usuários recebem informações restritas aos algoritmos definidos pelo estreito
universo no qual navegam, sem questionar o que mais há além do Google. Eles tem
dificuldade em sair da zona de conforto.
Por outro lado, o excesso de informação os torna altamente
criativos e é preciso dar espaço para que eles exercitem a experimentação
expressiva. É por isso que vemos um boom na procura de profissões mais inovadoras.Essa
é também uma das razões pelas quais atualmente se fala tanto em design e
economia criativa.
O livro ainda é o meio ideal para aprender. É tanta vida real
na net que os Millennials são loucos por livros de ficção. Vejam que interessante, a venda de obras sobre
ciências humanas está em declínio enquanto o tema espiritualidade é a grande
aposta das editoras. Tudo o que trata de debates "sobre si mesmo"
também está em alta. Livros sobre conselhos psicológicos, desenvolvimento
pessoal e pasmem, filosofia (aquela centrada no self), são um sucesso. Em tempos de extrema angústia, vida longa
aos gurus do viver melhor.
Explique um
pouco para a gente o que é a linguagem hiperbólica.
As mudanças na comunicação apontando para a experimentação
expressiva começaram a acontecer à partir dos anos 90. Novos modelos performativos,
a aceleração da vida, as plataformas de compartilhamento, a velocidade
reacional trazida pelos smartphones. Tudo isso conduziu os jovens a uma
comunicação exagerada, que objetiva prender a atenção e impressionar o
interlocutor. Se trata de uma expressão até pessimista, muito ligada aos
próprios conceitos do pós-modernismo: movimento crítico que fracassa em
proporcionar uma visão positiva em relação àquilo que ataca.
Encontramos muitos exemplos de linguagem hiperbólica em
vídeos no youtube nos quais os jovens criticam celebridades que não gostam, ou
defendem seus ídolos favoritos de forma exagerada. Como meio de enfatizar as
informações eles fazem uso uma linguagem chocante, politicamente incorreta,
quase histérica. Tudo resultado do congestionamento de informações. E veja, a
hipérbole é uma forma de linguagem muito usada na poesia. A linguagem
hiperbólica dos jovens de hoje em dia é, de certa forma, poética. O que temos
que entender é a poesia de nosso tempo. A linguagem hiperbólica está para a comunicação
como o realismo histérico está para a arte contemporânea.
E qual é o
comportamento da geração Z (não mostrada no vídeo) em relação à informação?
A geração Z (nascida após os anos 2000) está muito
inserida em um universo lúdico. Amantes das fastfashion
e dos games, são imediatistas e precisam ser constantemente desafiados. Eles
pensam rápido e encontram saídas, superam seus desafios com destreza e em
seguida querem mais, querem algo novo. Para essa geração vemos se afastar ainda
mais da realidade o modelo educação/trabalho/tempo livre. São a geração dos teenpreneues– adolescentes à frente de
empreendimentos de sucesso sem terem nem sequer terminado o segundo grau. Se
divertem enquanto trabalham. São capazes de gerir negócios internacionais sem
sair do quarto.
Filhotes da era da informação e experiência, são capazes
de formatar a própria realidade e levarão adiante um novo estágio da
comunicação, muito menos centrado em linguagem oral e muito mais sensorial.
Esta é a geração que se comunicará através de leitura de sinais cerebrais e
corporais (que pré-adolescente ainda não experimentou a tecnologia Kinect?). A
ciência está a um passo de ler pensamentos. Hoje já existem máquinas de
ressonância magnética que decodificam os sinais do cérebro, e os cientistas já
estão montado alfabetos neurais. Já existe até um dispositivo portátil chamado
iBrain – criado pela empresa NeuroVigil e financiada por Stanford e
multinacionais farmacêuticas - que
acomodado sobre a cabeça detecta sinais elétricos do cérebro e procura associar
a letras ou comandos de forma que uma pessoa emita informações diretamente
através da mente, sem depender de movimentos. Em abril desse ano, o
neurocientista Brian Pasley, da Universidade de Califórnia, publicou resultados
de um experimento com um software que decodifica os impulsos elétricos do
córtex e os transforma em sons*. Como sabemos que a evolução tecnológica é cada
vez mais rápida, não duvido que dentro de 10 anos o tema já esteja bem
desenvolvido.
Lindo mesmo é imaginar a geração que virá em seguida.
Já é possível arriscar: 2020 – 2040 abrigará uma geração com uma capacidade
impressionante de visualizar e criar, excêntrica, amplamente aberta e tão amante
da liberdade que será muito difícil que outro padrão mental possa compartilhar com
ela o mesmo espaço.
* Reconstructing
speech from human auditory cortex. Brian N.
Pasley e outros. PLoSBiology. Publicado
on-line em 31 de janeiro de 2012
Gostaria de agradecer imensamente a participação da jovem Paula Abbas nesse bate papo. Vocês viram quanta informação bacana ela trouxe? Agora só resta as gerações tentarem "se comunicar" melhor. Abaixo, um pouquinho do trabalho da Paula:
p.s: para quem curte o trabalho da Box 1824: http://www.box1824.com.br/ Informações sobre as gerações no post Revolucione-se!
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